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domingo, 5 de dezembro de 2010

O Segundo Sexo Vol I - Capítulo 1

Os dados da Biologia
Beauvoir inicia o presente capítulo nos apresentando o significado que o termo “mulher” recebe e que nesse caso ecoa aos quatros cantos como um insulto, uma ofensa, uma vez que o termo “fêmea”, ao contrário do termo masculino que enaltece a figura do homem, acaba por confinar a mulher em seu próprio sexo.Assim, Beauvoir lança-nos as seguintes questões: “Que representa a fêmea no reino animal? E que espécie singular de fêmea se realiza na mulher?”. A partir daqui a filósofa fará uma analise acerca da questão da diferenciação entre macho e fêmea no âmbito da biologia.

Segundo a biologia, a divisão dentro da espécie entre machos e fêmeas acontece com a finalidade da reprodução e conseqüente perpetuação da espécie. Entretanto, isso não ocorre de maneira geral na Natureza, o que se observa é que por diversas vezes os seres existentes na Natureza se reproduzem assexuadamente (esquizogênese, blastogênese, gemiparidade, segmentação, partenogênese). Em muitos casos, os indivíduos se reproduzem infinitas vezes e em nenhum desses casos se percebe algum tipo de degenerescência; isso posto, fica claro que nesses e em outros casos a presença de um macho se mostra inútil: “A biologia constata a divisão dos sexos, mas embora imbuída de finalismo, não consegue deduzi-la da estrutura da célula, nem das leis da multiplicação celular, nem de nenhum fenômeno elementar.”. Sendo assim, a existência de gametas heterogêneos não são suficientes para definir dois sexos distintos, uma vez que pode ocorrer que as células geradoras pertençam a um mesmo indivíduo, como no caso do hermafroditismo.

Para Santo Tomás, a mulher representaria tão somente "um acidente da sexualidade", posto que ele a considera como um ser ocasional; para Hegel, é na sexualidade que o indivíduo se atinge como gênero, é na sexualidade que os indivíduos definem os sexos e suas relações, sem, contudo, implicar na natureza do próprio homem. Para Merleau-Ponty, a existência na representa um fato casual, representa sim o movimento pelo qual os fatos passam a ser assumidos. No Ser e Nada Sartre contraria a tese de Heidegger que afirma que a existência humana se encontra ligada à morte em função de sua finitude; para Sartre, seria possível conceber uma existência infinita do homem, entretanto, ao considerarmos o homem como imortal ele já não seria mais homem tal qual o conhecemos. A infinitude do homem se daria, portanto, através da perpetuação da espécie.

Com o começo do patriarcado, o homem passa a reivindicar o seu papel como único criador, atribuindo a mulher o papel de secundário de simples procriadora e alimentadora do filho. Segundo Aristóteles, a mulher no momento da “fecundação” fornece apenas uma matéria passiva, ficando o homem responsável pelo princípio que dá a vida. Durante muito tempo se considerou o ovário como um homólogo da glândula masculina e que no espermatozóide já existia um homenzinho que seria apenas nutrido e protegido pela mulher. Somente, com a criação do microscópio e, consequentemente, diversas experiências feitas após ele, se passou a aceitar uma diferenciação entre os gametas masculinos e femininos. Mas ainda assim, Hegel afirmava existir uma diferença entre os dois sexos, onde um seria ativo (masculino) e o outro seria passivo (feminino). Na atualidade (aplicada aqui ao período no qual a obra foi escrita), pesquisas feitas acerca da partenogênese mostram que a presença do macho pode ser restringida a um simples agente físico-químico.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Arquivo N - O Segundo Sexo.

Aproveitando que o grupo está a estudar o livro mais famoso de Simone de Beauvoir, lembrei que há algum tempo tinha encontrado no youtube uns vídeos do programa 'Arquivo N' de um especial que eles fizeram sobre justamente o livro O Segundo Sexo em seu aniverrsário de 60 anos de publicação.

Esse especial contém imagens e depoimentos da própria Simone de Beauvoir, por isso é interessante, assim como a polêmica que o livro levantou na época; imagens da atriz Fernanda Montenegro que a interpretou na peça Viver sem Tempos Mortos, assim como seu depoimento e de outras pessoas.

E de certa forma seu relacionamento com Sartre também entra em questão em relação com Sartre e seu engajamento na causa.


Parte 1 de 3:




Parte 2 de 3:



Parte 3 de 3:





Fonte:
*Vídeo: Youtube.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Segundo Sexo Vol. 1 - Introdução

Introdução ( Parte 2 de 2)

Nesta segunda parte do resumo, encerra a introdução do livro, atentando que a edição utilizada para tal será a edição de 1980, o vol.1 da Editora Nova Fronteira, que vai da página 14 até a página 23.

Voltando um pouco, no final da página 13, Simone de Beauvoir diz que a divisão dos sexos é muito mais um dado biológico do que um momento histórico da humanidade.

A sociedade não pode ser fragmentada em homens e mulheres, uma vez que ambos são necessários para propagação, formar um casal, uma parte é conectada a outra; mas esse conhecimento da necessidade da mulher não a liberta. Ela é sempre a escrava, ou vassala do homem. Há uma dependência da mulher pelo homem.

As leis não são iguais para ambos e quando é, a mulher sai prejudicada. E quando os direitos lhe são reconhecidos, o seu costume adquirido a impede de o exercer concretamente. É como se economicamente o homem e a mulher fossem duas castas, pois eles (os homens) possuem os melhores salários e melhores condições de progredir; algo que ainda hoje ocorre nas empresas, mulheres que desempenham o mesmo cargo que um homem, ganham menos, mesmo realizando o mesmo trabalho.

O homem provém materialmente a mulher, que por meio dessa "proteção" recusa sua liberdade, tornando-se uma coisa em vez de se reivindicar como sujeito; é um caminho mais fácil, uma vez que não há a angustia de uma existência devidamente assumida. O homem constitui a mulher , que por sua vez não reclama uma reciprocidade e se conforma com seu papel de Outro. A dualidade dos sexos vem com um conflito, pois um tenta se coloca como necessário e absoluto para que o Outro exista.

O questionamento de porque a mulher não venceu esse conflito da dualidade dos sexos, porque só agora começam a mudar e se haverá uma mudança que partilhe o mundo com ambos os lados não são recentes. Muitas respostas houveram pelo fato da mulher ser o Outro, mas normalmente dada pelo próprio homem que é parte e juiz, segundo a feminista Poulain de la Barre.

Houveram tentativas de responder o motivo dessa superioridade pela religião, filosofia, literatura. Um exemplo que Beauvoir coloca é que o código romano invocou a imbecilidade e a fraqueza da mulher para que direitos lhe fosse restringido, pois o enfraquecimento da família leva o perigo para os herdeiros masculinos. Santo Agostinho declara: "a mulher é um animal que não é nem firme nem estável." É somente no Século XVIII que Diderot defende que a mulher é, assim como o homem, um ser humano.

Com o desenvolvimento da Revolução Industrial a mulher ganhou mais espaço nas industrias, adquirindo uma certa autonomia, pelo menos económica, fazendo o feminismo sair do âmbito teórico e indo para o económico. Isso fez com que os adversários do feminismo ficassem mais ferozes.

Para defender a propriedade privada a burguesia evoca o fortalecimento da família, ou seja, mulher em casa. E na classe operária os homens tentaram barrar essa liberdade, da mulher como autónoma economicamente, pois elas faziam o mesmo serviço que eles por um preço menor. E agora não era apenas a filosofia ou a religião que os antifeministas evocavam, mas a biologia, psicologia experimental, etc. A máxima "igualdade na diferença" também foi evocada, assim como para os negros nos Estados Unidos; essa pretenso desejo de igualdade só serviu para ocorrer mais desigualdade. As mulheres se tornam inferiores no sentido de que suas possibilidades são menores do que as dos homens. Mas isso deve continuar?

A burguesia enxerga na emancipação da mulher como um perigo a moral e aos seus próprios interesses. Não é apenas economicamente que essa "proteção" assegura aos homens, mas essa "proteção" garante a ideia de sua superioridade. Beauvoir coloca que Mauriac (acreditou escrever) que mesmo a ideia mais brilhante vinda das mulheres vem dos homens, é possível que essas ideias venham de homens, mas muitos homens consideram que suas opiniões vieram de outros.

Nenhum homem é mais desdenhoso e agressivo em relação a mulher do que aquele que duvida de sua virilidade, aqueles que não se sentem intimidados estão muito mais dispostos a tratar a mulher como seu semelhante. Muitos mascaram sua pretensão de se colocar como superior e absoluto, é pois, apenas, a liberdade da mulher que se realiza por ele. Os homens dizem que as mulheres são iguais a eles e que elas não precisam reivindicar nada, do mesmo modo que afirmam que ela não será jamais um homem e que sua reivindicação de nada serve. Um homem pode até ser simpático em relação a mulher, mas não partilha de sua condição de mulher para realmente compreender.

Muito dos argumentos das feministas se perdem em face da polémica. A mulher não é superior ao homem, pois se assim fosse afirmado, o raciocínio cairia no mesmo âmbito vazio do argumento masculino; a mulher não é melhor nem pior, mas igualmente um ser humano, assim como o homem.

É necessário examinar a questão do início, se o homem é parte e juiz, a mulher também o é, porém mais indicadas para falar de si próprias. A má-fé tanto da mulher como a do homem reside na situação em que estão, estarão eles mais ou menos dispostos para procurar pela verdade? Muitas mulheres com seus direitos de ser humanos restituídos, preferem se abster. Contudo, o que virá para as mais jovens e como convém orientá-las?

Não há como se falar de um assunto sem pressupor uma hierarquia de valores e uma descrição objetiva sem um fundo ético. A perspectiva adotada por Beauvoir tenta elucidar. A mulher não será colocada em termos de felicidade, mas sim da liberdade. E para isso ela ( a mulher) será discutida sob diversos pontos de vista: biológico, psicanalítico e do materialismo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Segundo Sexo. vol. 1.

Introdução (Parte 1)

Simone de Beauvoir afirma que "agora", em 1949, "não sabemos mais exatamente se ainda existem mulheres", e mais: "se existirão sempre, se devemos ou não desejar que existam, que lugar ocupam ou deveriam ocupar no mundo". E que ser do sexo feminino não significa necessariamente ser mulher. (BEAUVOIR, 2009, p.13)¹.

A autora afirma que em seu tempo a diferença entre duas categorias que se vestem diferente, tem corpos diferentes, interesses e ocupações diferentes, é uma "evidência total". (Ibidem. p.15). Porém, ela escreve:

"Se a função de fêmea não basta para definir a mulher, se nos recusamos também a explicá-la pelo 'eterno feminino' e se, no entanto, admitimos, ainda que provisoriamente, que há mulheres na Terra, teremos que formular a pergunta: o que é uma mulher?" (Ibidem. Ibid.).


Simone de Beauvoir também afirma que desde as mitologias antigas já se concebia o pensamento de dualidades como o Mesmo e o Outro. Afirmando ser a alteridade uma categoria fundamental do pensamento humano. Sendo assim, nada, ninguém, nenhuma coletividade se afirma sem colocar o Outro diante de si. Porém, admite-se uma reciprocidade, "não é o Outro que se definindo como Outro define o Um; ele é posto como Outro pelo Um definindo-se como Um." (Ibidem, p. 18). Ou seja, o que a autora está querendo afirmar é que se o Um afirma-se como o Um e o Outro transforma-se em Outro de forma a prespectivar sua pre-definição como tal é previsto que se tenha sujeitado a tal situação. Então, de onde viria a submissão da mulher?

As mulheres estão fragmentadas nas classes existentes, uma mulher burguesa serve à burguesia, uma mulher negra à comunidade negra, não possuindo uma identidade comum entre elas, assim como os negros nos EUA e os judeus. Podendo assim ser este um dos motivos de sua submissão. Esta afirmação ainda não se elucida neste ponto, mas encerraremos por aqui nossa discussão de hoje.

__________
¹ A referência aqui usada é: BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Tradução Sérgio Milliet. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

Livro de estudo: O Segundo Sexo

Este post tem como intenção expor um pouco sobre o livro que o grupo Liberdade e Ambiguidade: Compreendendo Beauvoir passa a estudar.

Por muito tempo, o grupo de estudos manteve-se focado nos escritos iniciais da autora como: O Existencialismo e a sabedoria das nações (lançado em 1948, mas com quatro artigos escritos para a revista Les Temps Moderns na década de 40, do qual para ver o resumo realizado pelo grupo, basta clicar AQUI); Por uma Moral da Ambiguidade (1947) e Pirro e Cinéias (1944) sendo este o primeiro ensaio filosófico de Beauvoir e pode ser encontrado na edição de Por Uma Moral da Ambiguidade (Destes dois últimos não há resumos no blog, mas serviu como base para alguns artigos e comunicações de membros em eventos de filosofia); E o último a ser estudado foi O Pensamento de Direita, Hoje (para ver o resumo realizado pelo grupo deste livro basta clicar AQUI).

Quando se menciona o nome de Simone de Beauvoir ou se pergunta acerca de um livro dela, normalmente o que se vem a mente é o nome de um certo livro que foi publicado em 1949: O Segundo Sexo. E é justamente o livro mais famoso de sua autoria que o grupo passa a estudar a partir desta data. Um livro que analisa a mulher como um tema filosófico, que causou muita polêmica na época. O que ocasionou reações muito hostis contra o livro e a própria Beauvoir.

Quando questionada acerca disso e de quem partia essas manifestações hostis, Simone de Beauvoir diz numa entrevista de 1976, concedida para Alice Schwarzer, que pode ser encontrada no livro de 1983 :Simone de Beauvoir hoje:
" De todos. Talvez tivéssemos cometido um engano publicando antes da saída do livro, o capítulo sobre a sexualidade em Les Temps Modernes. Ele desencandeou a tempestade. Foi de uma grosseria... Mauriac, por exemplo, escreveu a um amigo que na época, trabalhava conosco em Les Temps Modernes: "Ah, acabo de aprender muito sobre a vagina de sua patroa..."
E Camus, que naquele tempo ainda era amigo, me disse: "Você ridicularizou o homem francês." Professores atiraram o livro através da sala, de tal modo sua leitura lhes foi insuportável.
E quando eu ia ao restaurante, à Coupole, por exemplo, vestida da forma mais feminina, como é meu costume, as pessoas me olhavam e diziam: "Ah, muito bem, é ela... eu pensava que... Então é ela que transa nas duas áreas." Porque, naquela época, eu tinha reputação de lésbica. Uma mulher que ousara escrever aquelas coisas, não podia ser "normal".
Os comunistas também me reduziram a pedaços. Trataram-me de "pequeno-burguesa" e me explicaram: "Compreenda, as operárias de Billancourt estão se lixando para todas as coisas que a senhora lhes diz." O que é interamente falso. Eu não tinha do meu lado nem a esquerda nem a direita."

Por essa resposta, pode-se se ter uma idéia da polêmica que o livro levanta. A situação da mulher em sempre estar abaixo do homem, não é algo a priori, não é dada por nenhum fator histórico ou biológico.

O Segundo Sexo é divido em duas partes. A primeira chama-se: Fatos e Mitos e a segunda: A Experiência Vivida. Em que há uma analíse da figura da mulher, na biologia, história, os mitos acerca da mulher, a formação, situação, justificações e um caminho para ela se libertar.

Como é possível supor, o livro possui várias edições. As que estão sendo utilizadas pelo grupo é a da editora Nova Fronteira e Círculo do livro. E uma edição em francês para comparações de traduções. Abaixo algumas fotos dos livros:

Este aqui é a edição mais nova pela Nova Fronteira, sendo lançada ano passado em comemoração aos 60 anos de lançamento do livro.

Esta abaixo é pela editora Círculo do Livro.
E estas aqui são de 1980, pela Nova Fronteira, a mesma que lançou a livro em comemoração ano passado do qual a fotto foi a primeira mostrada.




















Como foi dito no início, este post é apenas para informar um pouco sobre a nova obra a ser estudada pelo grupo, e para que tenham um pouco da idéia dos resumos que irão a ser postados aqui.

O que se pretende é que com o avançar dos estudos os resumos irão ser postados quizenalmente, assim como as reauniões.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O Pensamento de Direita, Hoje. - Capítulo 10 (Parte 2)

A Vida dos Eleitos

Simone de Beauvoir declara que os mitos burgueses envelheceram um pouco, e que "as velhas hierarquias estremecem, a ordem do mundo está incerta, a honra desfalece". Sendo assim, o burguês, o homem de direita, o "Eleito", volta-se a um solipsismo, vendo que suas instituições sucumbem.

"Cética, e não mais bem-pensante, a literatura de direita se fecha, pois, no subjetivismo." Veem o amor não como uma união, uma comunicação, e sim como uma solidão. O amante está encerrado em seus delírios, pensa o burguês que o amor só concerne a si próprio. Este sistema se estende a todas as relações humanas. "A única preocupação do Eleito será pois o culto do seu 'eu'". Ele quer cultivar as suas diferenças, é isso que faz dele privilegiado, ele quer se sentir superior. "(...) trata-se de não se assemelhar aos outros." Pretende ele, segundo Beauvoir, levar uma vida sem conteúdo.

Porém é impossível viver na pura interioridade, segundo a autora, de certa forma essa interioridade se externará, pois não pode ficar no vazio, precisa preencher-se de objetividade. E é na literatura que muitos buscam a saída. Em uma literatura que se pretende "não comprometida". "Eles querem uma literatura que se mantenha fora do mundo, que os ajude a dissimular, a negar, ou pelo menos a fugir da realidade." E mais: "uma vida sem conteúdo exige evidentemente livros sem conteúdo."

Beauvoir neste ponto deste capítulo assemelha-se a Beauvoir de "Por uma moral da ambiguidade", quando critica a impossibilidade de manter-se em um patamar de "escrever descomprometidamente". Também quando afirma: "Em suma, eles não conseguem levar até o fim o seu solipsismo, nem escrever um livro sem conteúdo."

A autora ainda acrescenta à sua crítica o fato de o escritor burguês só levar em conta a vida interior. "Fora dela, só procura evadir-se: ou no passado, ou através do espaço, ou no irreal." Eles tratam de nos fazer esquecer deste mundo e de nós mesmos.

A burguesia também evoca um "naturalismo", pretendendo encerrar o homem em explicações baseadas na natureza. Pretendendo também justificar sua posição privilegiada. Porém a autora nega a validade dessa concepção.

E assim Beauvoir encerra neste último capítulo sua crítica ao pensamento de direita do seu tempo, onde podemos ver conexões com pensamentos de outros livros seus como: "Por uma moral da ambiguidade" e também o "O sangue dos outros", no que concernem a seu pensamento ético-político.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Pensamento de direita hoje - Capítulo 10 (Parte 1)

A Vida dos Eleitos

"Os eleitos excluíram do seu universo espiritual o resto da humanidade; ei-los entre si: que maravilha irão fazer de si mesmos?" Segundo a citação, uma vez que os membros da burguesia optaram por ignorar a existência da humanidade, Beauvoir nos propõem que analisemos de que maneira se comportam entre si. Sendo assim, a existência dos membros ativos da burguesia não se encontra na ação, antes sim em fins empíricos voltados para seus próprios interesses. A luta destes se apresenta muito mais negativa do que conquistadora, desta maneira a moral burguesa se encaminha para um comodismo que é justificado pelo pensador burguês através do catastrofismo histórico, que nada mais é do que o Apocalipse.

Muito embora a História esteja condenada por esse pessimismo, esses mesmos pensadores, a partir de uma visão otimista, afirmam que o universo é bom. Em suma, usa-se esse argumento como forma de ignorar o que se encontra ao redor dele: a pobreza de muitos. Se ignorar se tornou inviável, resta ainda suportar como afirma Montherlant: "Com que espírito podemos suportar - nós, os felizes - a miséria do mundo? Assim como suportamos que seja noite em New York à hora em que há sol em Paris.". Essa dialética de que a pobreza do homem representa a sua maior riqueza permite que a direita detenha a História, fazendo com que o escravo acredite que já é senhor e por esse motivo não necessita se tornar aquilo que "já é".

Como nos fala Pingaud: "O consentimento é o contrário da conquista." e o homem que consente não se define por sua ação por que este não faz nada, não luta por nada; e com isso o homem limita-se apenas a constatar a História sem dela fazer parte. E com isso a dita sabedoria burguesa propõe que a única opção existente é aceitar as coisas sem lutar, sem questionar. Assim, para os intelectuais burgueses o indivíduo é algo distinto de seus atos, estando sua verdade contida em outra coisa.

O homem de elite, acreditam ele, é nobre por uma graça inata, portanto, quando busca algum fim é unicamente com intuitos egoístas: ações aparentemente desinteressadas escondem pretensões egoístas. Dessas pretensões podemos destacar a figura do chefe carismático, que comanda suas tropas, mas que triunfa pela ascendência da sua personalidade não por demagogia.

Declara Thierry Maulnier: "O direito de errar é o direito fundamental do ser humano, e envolve todos os outros.". Todo aquele que acredita na importância dos seus fins, tem o fracasso como uma desgraça, tendo como possibilidade de salvação apenas uma reparação objetiva. A verdade é que o direito de errar não se encontra contido neste mundo empírico, mas num plano subjetivo. Entretanto, esses erros representam faltas políticas que custaram vidas humanas.

Esse subjetivismo burguês permite que o homem de elite não necessite prestar contas a ninguém e a falta de ação exige dele uma certa conduta: "Que lei seguirá essa conduta?".

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Pensamento de Direita Hoje - Capítulo 9

Valor e Privilégio

A ordem que favorece a Elite não poderia ser mais clara: o que conta não são os homens, mas uma realidade acima dos homens numa sociedade hierarquizada. Evidentemente é nessa realidade sobre-humana que a Elite se encontra; e para se encontrar ou alcançar uma verdade, deve-se aceitar essa hierarquização. É a utilização da máxima "igualdade na diferença" que os privilegiados fazem valer, acontece é que esses diferentes não se sentem iguais e é a indisciplina destes que os fazem cair na massa, que por sua vez não possui uma existência ligimitizada aos olhos da Elite. O pensamento excludente entre massa e valor continua.

A Elite pretende se apoiar em valores universais onde poucos são os que detém tais valores. Aqui poderia se pensar: Que valores? Valores vitais, espirituais ou materias? E sendo materiais, não seria indigno? Ingênuo aquele que pensa ou quer que a virtude tenha um fim em si mesma, que o sábio ou o héroi não reclamem salários maiores por guiar os outros; que os políticos não queiram privilégios por estar no poder.

É pela idéia de mérito que a burguesia une a iéia de valor com a de gozo. Scheler diz que tais valores de prazer não são dados pela "justiça", mas pelo valor de vida. Ou seja, tal classe de privilegiados podem desfrutar-se do ócio e de sua liberdade burguesa justamente por possuirem uma virtude superior, um privilégio, de fato.

Entretando, ao injetar nesse sistema tal materialidade, pode-se pensar por qual motivo sagrado essa dependência empírica dos Eleitos não se aplica aos outros homens? Jaspers tentar responder tal dúvida afirmando e proclamando uma "nobreza da humanidade" em tais privilegiados; o Transcedente exige uma sociedade hierarquizada e se os privilegiados não possuirem o controle econômico sobre a coletividade, correriam o risco de se massificarem. Simone de Beauvoir retruca sarcástica: "O sistema é por demais coerente: tem a coerência de uma tautologia."

O que realmente difere o Eleito dos outros homens é justamente seu valor que tem como fundamento esse seu privilégio.  O privilegiado tem um forte instinto de conservação e pretende justificar e perpetuar sua condição, mesmo que tal pensamento não se sustente por si só.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Pensamento de direita hoje - Capítulo 8

A Arte

A aristocracia de direita profere que se deve preferir à Beleza aos homens, tal afirmação consiste como sendo um de seus dogmas. A beleza é uma realidade projetada acima da nossa pobre realidade mundana; constitue a verdade do humano, mas é preciso que ela se mantenha contra os homens, pois como Drieu la Rochelle diz: "a humanidade é feia venha de Chicago ou de Pontoise".

A sorte da Arte e da Beleza estão intimamente ligadas. A beleza se realiza plenamente na arte que é uma realidade dada que se aprende pela contemplação estética; é também por ela que o homem transcende seu próprio ser. A arte vai de contra ao destino, pois supera a mortalidade  do homem que a fez e o tempo em que é realizada; está ancorada na eternidade. Por isso que os estetas recriminam esse mundo empírico em que se vive, por causa de sua data de validade, seu caráter absurdo e o caos.

Para os defensores da arte, a importância  da arte sobrepõe-se aos outros valores eternos, pois ela possui uma realidade ao qual tanto a direita quanto a esquerda reconhecem: os outros valores não passam de equívocos inapreensíveis. A esquerda reconhece essa realidade da arte, assim como sua importância, mas se pergunta com que direito a direita confude a causa da arte com a dela própria. Tal fato, Simone de Beauvoir diz que é recente; por exemplo na literatura aconteceu uma revolta contra a burguesia, mas o momento negativo da revolta não foi ultrapassada. Não é mais possível fazer uma revolta contra a burguesia sem estar do lado de seus adversários, pode -se compreender com a máxima: "Resista ou Sirva". Se antes a poesia servia de crítica contra os valores, hoje ela serve à essa mesma burguesia.

Não há uma arte puramente autêntica, do mesmo modo que não há uma moral desse modo, que imobiliza o  humano. Uma arte pela arte está fadada ao fracasso, do mesmo modo com uma moral com valores eternos e inumanos. As obras apreciadas pelos intelectuais burgueses mais se parecem com pastiches ( uma obra que imita grosseiramente o estilo de outros autores famosos). Um novo Sthendal ou um novo Rimbaud deveria não apenas imitar o estilo desses, mais ir alem das barreiras estabelecidas.

Aron e Monnerot afirmam que não é possível haver arte numa barbárie, como no comunismo e quem discorda deles, são acusados de "promoção" as custas do comunismo. É a Arte em pessoa que afirmaria e não os artistas, segundo o Sr. Stanislas Fumet, não é possível fazê-la na servidão, acontece que essa liberdade que a Arte está proclamando é justamente a da burguesia, a da miséria, a da corrupção; pois essas são úteis para que o artista viva a diversidade da vida. Seguindo essa linha de pensamento tão libertária, o que seria milhões morrendo de fome perto da eternidade de uma poesia de Montherlant? A infelicidade é necessária ao Transcedente, que é necessária à Beleza e à Arte. As doutrinas, as políticas que pregam a felicidade do homem são antiestéticas, o mundo tem que ficar como está. Tal pensamento traz dentro dele uma disseminação de um conformismo para que o poder continue nas mãos de quem está, pois dizem que "haverá sempre infelicidade sobre a terra". Segundo Dionys Mascolo "esta arte cúmplice da infelicidade não pode ser grande arte. Ela termina por trair a infelicidade, por trair a infelicidade e, assim, trair-se a si mesma.". Esse amor sem freios ao belo não nasce de um esteticismo, mas de um recentimento, diz Sartre.

Massa e arte se excluem, pois só é belo o que é raro e precioso, ao vulgarizar destroi-se a beleza e o valor artístico. É nesse princípio de exclusão entre as massas e a arte em que a estética da direita se fundamenta. Não haveria aquilo que tornaria os intelectuais diferente dos demais, de nada adianta se o melhor vinho é produzido em série com a mesma qualidade e gosto, de nada adiantaria uma obra de arte feita em série até mesmo com as imperfeições que a torna única. O que antes era raro e precioso, não passa de algo vulgarizado e sem valor.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Pensamento de direita hoje - Capítulo 7

A Moral

Beauvoir começa nos dizendo que num período anterior a guerra, a moral da direita se apresentava muito mais heróica, onde o homem atuante na Historia é o herói. Essa atuação que estabelece a verdadeira comunicação entre os homens acontece por meio da violência, da guerra. Dessa maneira, percebemos que o homem se afirma por meio da guerra, da destruição do próximo; dessa forma é que a existência de realiza. Afirma Drieu: “Nada se faz senão com sangue.”.

Entretanto, todo o sangue derramado não mais serviu para afirmar a existência, uma vez que não se prega mais o heroísmo, mas sim a sabedoria. Sendo assim, Jaspers ao conceber um espiritualismo burguês, através de um encontro do homem com ele mesmo, entrega a elite do pós-guerra uma moral pratica diferente daquela filosofia do Transcendente. “O herói moderno, enquanto mártir, não pode ver seu adversário, e ele mesmo permanece invisível no que verdadeiramente é.”, dessa maneira, o herói deixou de ser herói e passou a ser mártir. Segundo Jaspers, o questionar-se a si mesmo é transcendente e nos remete a existência de fato; assim, a autenticidade é uma maneira de ultrapassarmos para o Transcendente. Dessa maneira, manter laços com a raça, com o país, com as tradições, representaria uma forma de se realizar.

Segundo Braspart, algumas individualidades permanecem impossíveis de serem vencidas por meio da razão, nada se conseguindo contra elas. Da mesma forma afirma Claude Elsen que o único compromisso que o indivíduo possui é aquele que se estabelece consigo mesmo. Assim, muitos desses indivíduos insubstituíveis sonham com um corpus mysticum.

A única resposta possível a pergunta “ser si mesmo?” será a de que devemos sempre nos diferenciar a partir de nossa finitude singular. Ser si próprio, assim como ser livre representam a mesma coisa, logo, para o europeu a liberdade significa tão somente a de realizar-se, de buscar-se, de diferir-se.

É preciso, entretanto, entender que o sentido da palavra indivíduo está profundamente voltada para o sentido de pessoa: “(...) o indivíduo é insubstituível (...)”; assim o que se busca não é a realização da humanidade em geral, mas do indivíduo. Imaginava-se que esses indivíduos estariam encarregados de uma vocação, mas no mundo moderno, o conceito de vocação teria perdido toda a sua honra em meio aos horrores da guerra.

Beauvoir salienta os privilegiados sempre reivindicam aquilo que lhes é vantajoso, mas nunca aquelas diferenças que são desvantajosas, uma vez que nunca se reclama a miséria ou a escravidão. Falar de um passado onde os oprimidos eram honrados por uma vocação que de certa forma lhes era imposta, é na verdade uma piada de muito mal-gosto. Assim, afirma Aléxis Carrel, que a organização dos negócios, bem como da produção em massa só tende a diminuir o desenvolvimento da pessoa humana.

Finalmente, intelectuais europeus como Rougemont e Jaspers afirmam que só os eleitos conseguem se realizar como pessoa, através de sua resistência à massa: “Atribuir a todos os homens a dignidade de uma pessoa, seria estabelecer sua igualdade, seria o nivelamento, a uniformização, o socialismo.”. Dessa forma, fica claro que se trata aqui, ainda, de uma negação das massas em favorecimento das elites.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Pensamento de Direita, Hoje - Capítulo 6

O PENSAMENTO

Neste capítulo Simone de Beauvoir afirma que os teóricos burgueses “professam um subjetivismo psicofisiológico” que retira as ideias do objeto pensado e a colocam somente na mentalidade do sujeito. Com este pensamento afirmam haver uma determinada essência que é expressa como: “uma alma negra, um caráter judeu, uma sabedoria amarela, uma sensibilidade feminina, um bom-senso camponês, etc.” Dizem que há uma essência e que esta “define a região do ser que é acessível a cada um”, ou seja, um camponês necessariamente “tem uma intuição mais certeira da terra que um agrônomo formado”, pois é um camponês. Com isso, embasam-se em uma espécie de teoria do conhecimento spengleriana chamada tato fisiognomônico. Isto desemboca em afirmações como: “Um desenraizado, um sem classe, jamais pode compreender a classe ou a raça em que está como intruso.” Este sistema aqui indicado, segundo Beauvoir, permite restabelecer aos homens de direita o critério da autoridade.

Em outro momento do mesmo capítulo, Beauvoir afirma que os homens de direita se fazem místicos e ligam a Verdade e a Liberdade ao silêncio e ao Transcendente. E, no entanto, prova-se que isso é uma falácia dos burgueses, pois eles o que mais reivindicam é a liberdade de expressão, e que de fato “eles não acreditam muito em mesas que giram movidas por forças ocultas.” Porém, para impor sua autoridade propõem isso como “verdade”, o misticismo e o silêncio daqueles não-privilegiados.

Também em outro momento deste capítulo a autora afirma: “(...) sabemos que o conceito de liberdade, se define (...) a partir das liberdades burguesas. A liberdade existe onde os burgueses são livres.” Por isso o exemplo citado de um senhor que afirma a miséria em Haiphong (cidade vietnamita) como liberdade. Tudo se define a partir das normas burguesas e estes pensam encarnar a figura humana, sendo assim, a massa excluída da possibilidade de acesso a este domínio.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Pensamento de Direita Hoje - Capítulo 5

MISSÃO DA ELITE

Como vimos anteriormente em "A História" a burguesia exalta uma moral da ataraxia¹ que serve apenas a si mesma, pois ao mesmo tempo em que condena a história, o burgues busca, por outro, salvaguardar para si "o momento da História que o privilegia", isto é, diviniza-se e exalta "Formas, Ideias, Valores que transcendem a História e precisam ser defendidos". Lógico que estes são os que lhe servem.

Vê-se aqui algo já exposto em capítulos anteriores - ora em entrelinhas, ora mais em voga - o platonismo,o idealismo proferido pela "elite". Criticam aqueles que buscam mudanças políticas que vão de encontro com as ideias que proclamam ser universais: não se devem confrontá-las.

Mesmo assim, ainda defendem uma tese em comum: a do pluralismo. Declamam tal tese com vigoroso clamor a fim de defender seus interesses. A diferença é comum, dizem, não se pode exigir condições iguais para pessoas distintas. Com isso tentam justificar um pessimismo histórico que visa atacar a qualquer possibilidade de combate. Fazem sistemas confusos para explicar esta distinção e justificá-la a tal ponto que faz com que não parecem de fato opressores, fazendo o oprimido sentir-se em seu lugar, camuflando esta opressão.

Beauvoir mostra o argumento de Spengler - que se distingue daquele de verdades universais - mas que ainda assim defende os interesses burgueses. Spengler anuncia que "não há verdades eternas", mas que "o único critério de uma doutrina é a sua necessidade para a vida". Ora, Beauvoir concorda que ele é mais coerente que os demais, pois ele percebe que um pensamento que exalta o pluralismo para se justificar se contradiz com critérios que se querem universais. O que ele faz, aponta Beauvoir, é "substituir o ideal de universalidade pelo reconhecimento de uma multiplicidade de verdades"; o que a burguesia faz, todavia, é impor a sua verdade e camuflá-la como a melhor, segundo o que foi dito no fim do parágrafo anterior.

Em um parágrafo de extrema ironia, Beauvoir fala como se fosse um burgues cínico, que admite que a "civilização burguesa ocidental é a única a que estamos substancialmente vinculados", e que esta civilização não implica em progresso algum, onde o futuro nada significa, é um conceito vazio. A única coisa que interessa é a Forma à qual estão vinculados, apenas o seu presente. A ameaça de decadência que sofrem, isto é, o comunismo, não possui "promessa de uma forma nova". Além de si mesma "tudo é noite e silêncio. Preocupemo-nos, pois, com a Europa, com o Ocidente: nada mais no concerne".

Beauvoir ainda nos fala da concepção de Jaspers, que confirma o que Spengler diz. Jaspers diz que existe uma pluralidade de verdades, as quais se comunicam entre si por conta de certa relação com o Ser, o Trascendente, e que só podem ser vividas em separação, pois a verdade de cada um se choca com a de outrem, e é por ela que "venho a ser eu mesmo; ela não é única, porém é a única e insubstituível enquanto está em relação com outrem". Dito isto, Beauvoir mostra que há aí uma exaltação de uma moral ue privilegia o "ser si mesmo", o abrir-se ao Transcendente assumindo minha finitude, em vez de buscar ultrapassá-la. Mais uma vez irônica, Simone diz: "Portanto, meu dever de burguês ocidental é querer incondicionalmente a civilização burguesa ocidental".

Conclui, então, a autora francesa que o burguês quer mostrar-se como única possibilidade de salvação, porém, mostra a filósofa, essa salvação se operará contra as massas, pois o burguês as vê como "elementos de dissolução" que "desintegram as ordens, provocam os cismas, negam o Transcendente e esvaziam a realidade humana de sua substância" que logicamente só se salvaguarda no próprio burguês. Por meios das massas "tudo se perde e nada se cria". Tudo isso possui como consequência o desprezo pelas massas a ponto de renegar a cada um que a compõe o nome de homem, que culminará em uma exclusão dela como agente histórico se operando também aí um desligamento dela dos campos de valores ético e estéticos, os quais a autora tomará nos capítulos que se seguem.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O Pensamento do Direita Hoje - Capítulo 4

A História

Para tratar da concepção da História propagada pelo pensamento de direita, Simone de Beauvoir utiliza-se preferencialmente das teses de Burnham, Spengler, Toynbeee. Embora não esteja preocupada em examinar aqui os sistemas destes, a autora expõe a ideia geral e até mesmo contraditória destes pensadores.

Burnham afirma que a natureza humana é pervesa e é imutável, pessimismo esse que já basta para condenar a História, que seria feita pelos Estados Maiores, onde o movimento histórico seria realizado pela luta de poder entre as elites. Nessa sucessão entre as elites não há realmente uma finalidade, há simplesmente uma luta de poder pelo próprio poder, os homens não ganham nada. Essa ideia de Burnham é facilmente usurpada pelos anticomunistas que querem desacreditar a ideia de revolução. Aron e Monnerot, por exemplo, utiliza-se das concepções de Burnham para combater o "romantismo revolucionário".

Mas esse pessimismo de direita não vem sozinho, traz consigo um certo misticismo. Se a História é absurda como afirma Burnham, como a Elite se salvará, pois é ela própria que faz a História? Burnham nem sequer sente necessidade de se justificar uma vez que está alienado pelo anticomunismo.

Spengler e Toynbee tem um pouco mais de recursos em seus respectivos sistemas, embora traga uma visão mais trágica do mundo e condene todas as civilizações à morte, que nasce por meios inumanos; a insignificancia da humanidade é proclamada. A História estaria subordinada ao Cosmos e haveria até mesmo uma salvação sobrenatural para certos homens e em cada ciclo histórico há formas que transcendem a própria história e estas são harmoniosamente ligadas aos interesses dos privilegiados.

Em Spengler o objeto e a realidade da História nada tem haver com "a existência da besta humana", e realidade histórica dependeria de um fator cósmico. "Uma cultura nasce no momento em que desperta uma grande alma; uma cultura morre, quando a alma realizou a suma inteira das suas possibilidades sob a forma de povos, línguas, doutrinas religiosas, artes, Estados, ciências, e assim volta ao estado psíquico primário". Já em Toynbee há vagamente uma idéia de progresso, contudo, este não é recaído nas indignas mãos humanas e muito menos nas mãos de quem não seja um privilegiado, mas sim um progresso espiritual.

A história concebida pelo pensamento de direita não é realizada pelas ações dos homens e sim pelas exigências do Transcedente. Para eles é importante manter esse quietismo catastrófico que serve a ordem que já está estabelecida, ou seja, a ordem dos privilegiados, que para eles há um consolo, pois quando a elite for liquidada, já que possuem uma visão de morte e nascimento das civilizações, pelo menos esse fim será espiritual.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Pensamento de Direita Hoje - Capítulo 3

A Teoria da Elite

Nesse capítulo a autora irá argumentar acerca do pensamento da elite burguesa com relaçao ao comunismo. Para a elite, tanto proletarios quanto intelectuais vivem fora da realidade devido as imagens, os afetos ou ideias, tanto externas quanto internas. Ao se afastar do mundo, o homem se afasta dos seus semelhantes, tendo como único intuito seus próprios interesses. Para Monnerot, assim como para os pensadores de direita, o mundo está repleto de pessoas que enganam e daqueles que se deixam enganar, onde os movimentos são desprovidos de quaisquer finalidade. Dessa forma, a elite sentindo-se a única classe privilegiada se insere num sentimento de naúsea com a existência de "homens bárbaros".

Para tanto, Beauvoir irá mostrar que para obter o Direito a burguesia eleva seus pensadores acima da humanidade, usando-se da ideologia religiosa para alcançar suas pretensões. Assim, o burguês passa a afirmar que Deus o escolheu e quanto aos preteridos restavam-lhes apenas a resignação. Dessa maneira, a burguesia se utiliza até os dias de hoje do pensamento cristão como forma de justificar a exploração do homem, uma vez que o homem é uma coisa que necessita ser explorada, como afirmava Paul Claudel.

O cristianismo tornou-se com o tempo uma doutrina ambígua, pois todo homem é uma criatura de Deus, mas sempre existem aqueles que exploram os outros. Assim, Deus deixou de servir como justificativa para a dominação do homem sobre o homem. Então, Beauvoir nos apresenta o cume do pensamento burguês, onde seus interesses se tornam valores, a existência do privilegiado é sagrada, eles são superioridades, são a elite, e dessa forma se justifica a desigualdade. Segundo Nietzsche, utilizando-se de Maquiavel, só a existência dos privilegiados possui alguma finalidade; a massa não passa de inúmeros indíviduos com os mesmos rostos, todos iguais.

Para Spengler, somente a nobreza existiria na realidade, na história, toda a massa camponesa seria um momento da história do planeta; assim, a vida e a história representam a mesa coisa. Nesse contexto, a raça passa a se realizar na humanidade camponesa. Por outro lado, a burguesia não possui substância como a nobreza, uma vez que é surgida do conflito entre as cidades e o povo camponês.

A política sacrifica os homens com uma finalidade, enquanto que a economia apenas os mata; há assim uma diferença entre morrer de fome e morrer por um fim, onde na primeira não há nenhuma glória, enquanto que na segunda se morre como herói. Durante a guerra, muitos burgueses associaram sua causa com a causa nazista, acreditam que lucrariam mais com essa ideologia, entretanto o nazismo perdeu a guerra.

Para a elite o valor não é algo que se adquire, mas sim algo que está vinculado a raça, que é inerente a ela. As massas nada mais são do que animais, segundo a burguesia, e dessa forma são guiados por leis como os rebanhos de animais. Quando reduz-se o homem a si mesmo temos a impressão de que ele é destituído de qualquer significação. A nobreza tornou-se uma característica, uma qualidade que é inerente a própria alma, é algo que se encontra na transcendência, para tanto, é participando do ser que o homem possui dignidade.

O homem quando se torna membro da massa já não existe como ele mesmo, ele é, segundo Jaspers, o terreno perfeito para propagandas tendenciosas. O homem é, então, incapaz de transcender à sua própria história, a sua própria existência.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O Pensamento de Direita Hoje: Capítulo 2 ( Resumo)

O ANTICOMUNISTA

Neste capítulo, Simone de Beauvoir tem como intenção mostrar de que modo o anticomunista nega a realidade do proletariado. Basicamente, sua fórmula se opera por meio de diversos reducionismo.

O anticomunista reduz o homem a um subjetivismo que nega sua realidade material, assim como as necessidades advindas daí, não há uma necessidade de certas situações, o que os faz derivar a uma concepção de que o comunismo não passa de uma convergência de vontades movidas por sentimento éticos ou afetivos. Desta forma, tornam, através de um psicologismo, o proletário um ressentido. Com isso, retomam Nietzsche, que diz ser o fraco possuído pelo desejo de vingança, pelo ressentimento.

Scheler, outro defensor da burguesia, aponta no socialismo um ressentimento contra Deus e contra a porção divina que há no homem, e retomando o que diz Rathenau, a noção justiça erguida pelos fracos não passa de inveja, onde querem baixar ao seu nível aqueles que lhes são superiores.

Outros autores tomam uma via psicanalítica e diagnosticam no proletário um complexo de inferioridade; a luta de classes, então, não passa de um profundo instinto de auto-avaliação, que tem início em um frustração que logo dá espaço à neurose e que finda em uma revolução, a qual nada mais é do que uma reação compensatória para seu complexo de inferioridade.

Simone de Beauvoir, logicamente contra tais argumentos, toma como exemplo que recorrerá frequentemente o autor de Sociologie du communisme, Monnerot. Para esse autor, a luta de classes se reduz a um conjunto de reações psíquicas cuja origem é o ressentimento.

Beauvoir percebe a contradição de Monnerot quando ele diz que o ressentimento do proletário é "historicamente necessidade", já que só é necessário o que é real, e se o proletário pode tomar consciência dessa realidade e evocar uma revolução, acaba-se por aniquilar um fundamento válido para tal psicologismo.

O anticomunista se obstina em dizer que a Causa - como chama o comunismo - apenas persegue o poder, que suas intenções são dissimuladas, querem o fim do capitalismo não para o bem comum, para para si próprio. Elevam tal argumento fundado no maquiavelismo.

Assim, o anticomunista reduz todaos os problemas dos homens em questões imaginárias. Então, querem curá-los com doses de ideias, porém, ele não dá um conteúdo concreto para tais ideias, não há aqui uma reflexão sobre a realidade; fazem como os norte-americanos, que tentam convencer de que aquele indivíduo não é um proletário, mas um cidadão americano. Beauvoir, contudo, contesta afirmando que é preciso transformar é a situação em que vivem.

Monnerot compreende o intuito de Marx não como uma preocupação ética, mas como um impulso irracional, enquanto Scheler vê no comunismo um humanitarismo que se ergue sobre um ódio contra a família, o meio e à pátria. Cada qual com sua interpretações, diversos anticomunistas vêem o marxismo sob um fundo religioso que insufla as massas, um domínio sobre as almas: é um messianismo.

Thierry Maulnier questiona porque toda revolução implica em um terror. Aponta as fontes destes no medo e na vontade de poder, dizendo que no fundo inconsciente coletivo se ergue o aparato da justiça revolucionária.

O que podemos ver e que bem expõe Simone de Beauvoir, é que há aqui uma redução do marxismo a um fenômeno psicossociológico sem nenhuma significação, onde buscam apontar o marxismo como uma religião sem divindades e dogmas, mas com sacerdotes maquiavélicos, o que serve de instrumento à Causa.

Por conta de tudo isso, o burguês não consegue compreender como é possível haver intelectuais de esquerda, já que não são nem deserdados e nem manifestam qualquer vontade de poder. Para se salvaguardar a isso, o anticomunista adapta aqui o ressentimento, onde o intelectual de esquerda se sente isolado, não ocupam locais importantes, o que faz com que odeiem a burguesia e a si mesmos.

O anticomunista ainda diz que o intelectual odeia os burgueses, toma deste sentimento apenas o aspecto negativo. Não percebe, porém, que esse ódio é resultado de um sentimento positivo de amor ao povo. O anticomunista só encherga um complexo de inferioridade.

Segundo Monnerot, os comunistas tentavam atrair para a Causa os cientistas que podiam fabricar a bomba atômica. Usavam, então, métodos psicológico e pretextos religiosos, morais e metafísicos. Queriam insuflar um imperativo moral nos cientistas. O anticomunista também diz que para isso os comunistas ofereciam aos cientistas promessas relativas aos seus pontos fracos, sendo tal ação o ponto forte do comunismo. Contudo, diz Simone de Beauvoir, como a exploração dos vícios e fraquezas poderia despertar no cientista um imperativo moral?

Sem respostas, voltam aos argumentos sociológico-psicanalíticos.

Por fim, Beauvoir mostra uma outra teoria, a de Arthur Koestler, em que, baseando-se em uma fisiologia barata, ele diz que o intelectual se vincula à esquerda por uma "fadiga das sinápses". Sua consciência foi tão violentada que os impulsos não mais passam corretamente pelas células cerebrais.

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Este foi o resumo do 2º capítulo do livro "O pensamento de direita, hoje", intitulado de O Anticomunista. Espero que tenha sido claro e eficaz.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Pensamento de Direita Hoje: Capítulo 1 ( Resumo)

SITUAÇÃO ATUAL DO PENSAMENTO BURGUÊS


Antes de começar o resumo propriamente dito, é preciso salientar uma coisa que a própria Simone de Beauvouir esclarece em sua primeira nota, que para compreender o alcance das várias citações que ela faz e conseguentemente compreender melhor a idéia geral do resumo, é bom ter em mente que para o pensador de direita é o privilegiado que tem verdadeira existência; quando se fala do homem, da civilização é do burguês e da burguesia. Quanto aos não privilegiados, eles são ordinariamente chamado de as massas.

Outro ponto que é importante também salientar é a grande quantidade de personalidades que a autora cita. Alguns nos são bem conhecidos, nem que seja apenas por nome, como: Marx, Lênin, Salazar. Mas outros não os são, como: Klages, Denis de Rougemont, Drieu de la Rochelle, Spengler e por aí vai. Mas o foco do resumo é transmitir a idéia que Beauvoir quis passar com seu texto e não a grande quantidade de nomes que a autora cita.

E lembrando, o texto é de 1955.

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" A verdade é una; o erro múltiplo. Não é por acaso que a direita professa o pluralismo. As doutrinas que o exprimem são bastante numerosas para que sejam todas examinadas aqui seriamente. Mas os pensamendores burgueses - que proíbem a seus adversários de utilizar os métodos de Marx se não aceitam em bloco todo o sistema deste - não vacilam em mesclar com ecletismo as ideias tomadas de um Spengler, de um Burnham,  de Jaspers e de muitos outros. Este amálgama constiyui o fundo comum das ideologias modernas de direita. E é ele o objeto deste estudo" Simone de Beauvoir no prefácio de O Pensamento de Direita, Hoje.
A SITUAÇÃO ATUAL DO PENSAMENTO BURGUÊS

Tudo que é vivo morre, e tudo que começa é natural que se deduza que também haja um fim. Porém, muitos temem o final de uma situação, o burguês tem medo de um dia esse fim que várias civilizações conheceram ele mesmo possa vir a conhecer. É esse pânico de um dia findar-se que pode ser claramente visto em seu próprio pensamento. E para tentar retardar este fim agora pensa a vida em termos de destino e não mais de liberdade.

Há tempos este fim é previsto e tem sido entoado e mais difundido com o fim da Primeira Guerra Mundial, em que o otimismo burguês foi abalado, o 'perigo operário' passou a ser mais notado. No início do século XX, o cenário burguês não era mesmo muito otimista: a livre concorrência e as contradições do capitalismo passaram a ser conhecidas por ele próprio. As crises, as guerras fizeram com que se notasse que não haveria uma nova idade do ouro; a burguesia passa a duvidar de suas próprias ilusões, a prever terríveis apocalipses, misturando sua sorte com a do mundo, com a humanidade inteira. O fim enfim era admitido como uma possibilidade, era a liquidação da burguesia como classe; mas eis que ainda havia uma esperança: o fascimo. Era necessário fazer tudo ou nada.
Mas esse necessário foi em vão, a burguesia amarga a derrota do fascimo; suas dúvidas estão expostas diante de si tirando seu sono. A burguesia não é a civilização e quem não faz parte dela e não reconhece a hegemonia estadunidense, estão prestes a criar uma nova. Agora o burguês sabe responder qual bárbarie seguirá ao seu fim: o comunismo.

Tenha em mente que este texto é de 1955 e o comunismo era a quinta parte do mundo. Hoje, sabemos que o comunismo deixou de estar em ascenção para estar em extinção.

Contra o comunismo a burguesia dispunha ou da bomba ( que era radical demais) ou da cultura ( que é pouco demais). As ideologias de direita contemporâneas são elaboradas sob o signo da derrota, conservando o idealismo e ignorando as resistências do mundo real, negando a luta de classe. O pensmento idealista do burguês é confirmado por sua atitude idealista. O teórico burguês não mais se defende, mas defende-se contra o comunismo, embora sem esperança, pois a morte de seu sistema ele própria já anuncia. Suas justificações são contraditórias, é vítima de si mesmo, mas tenta conservar-se entre os privilegiados, porém não há mais como negar os que não são.

O burguês ocidental tem que admitir o óbvio: não é absoluto, há outros homens no mundo. Como enganar-se sobre a existência destes homens? A burguesia expõe seu pensamento de maneira universal, seus interesses são de todos que estão com ela dividindo o mundo, assim protegendo seus privilégios contra o resto. Na burguesia há os 'os ideólogos ativos' que são intelectuais visto pela própria direita com desconfiança, pois suas criações ideológicas são preservadas por eles com muito afinco e o proletariado desconfia destes por serem burgueses.

A burguesia sente-se desamparada, os estadunidenses tem armas para se defender, na Europa é preciso mais, é preciso ter um pensamento que faça os outros defenderem os interesses dela, como se fosse deles próprios. Para o pensador burguês é melhor que a humanidade seja condenada do que se pôr em discussão.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Novo livro em estudo: O Pensamento de Direita, Hoje.

Depois de um tempo parado por assuntos internos, não apenas o blogger do grupo voltou a ser atualizado, como o próprio grupo voltou a ativa. Com algumas mudanças e caras novas, voltamos. E com uma nova obra da Simone de Beauvoir para estudar: O Pensamento de Direita, Hoje.







Acima estão duas versões da capa; há uma terceira versão onde a capa é bem colorida, na verdade parece aqueles desenhos que fazemos quando somos crianças, mas não encontrei esta capa no google, apenas um membro do grupo tem essa versão. Acontece que o livro não é exatamente um livro mas um capítulo de um outro de 1955, de nome Privilèges.





Em Privilèges há três ensaios da autora: Deve-se Queimar Sade?, O Pensamento de Direita Hoje e Merleau-Ponty e o Pseudo-Sartrismo. Os dois primeiros ensaios, há versões em português, mas como já deu para notar sairam como livros independentes; dando uma procura em sebos e sites de sebos, não é tão difícil os encontrar e no geral não são tão caros. Agora o terceiro Merleau-Ponty e o Pseudo-Sartrismo, não temos certeza que realmente haja uma versão em português, caso você saiba de algo, entre em contato com o blogger e compartilhe a informação.

Voltando ao assunto inicial, o livro que está sendo estudado é O Pensamento de Direita, Hoje. Acredito que não preciso lembrar que esse "hoje" é em 1955. Que embora muito do que ela fala, nós já saibamos o resultado, o estudo vale ainda por o pensamento de direita ainda trazer em seu seio, formas não muito diferentes das que Beauvoir cita.

Sim, continuaremos a publicar os resumos, mas uma das mudanças do grupo foram que as reuniões passaram a ser quinzenais por conta da disponibilidade dos integrantes, mas tentaremos semanalmente publicar algo; seja resumo, seja outra coisa que tenha haver com a temática do blogger.

Semana que vem será publicado o resumo do primeiro capítulo: Situação Atual do Pensamento Burguês.

Atenciosamente,

Grupo de estudo: Liberdade e Ambigüidade - Compreendendo Beauvoir.


Fonte das fotos: Pesquisa realizada pelo site de busca google.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O existencialismo e a sabedoria das nações ( índice de todos os resumos)

Para facilitar para quem acessa o blogger para ler os resumos que foram aqui publicados e os que futuramente serão, ao final de cada obra resumida, será colocado um post com todos os resumos organizados.

O Existencialismo e a Sabedoria das Nações ( L'existencialisme et la Sagesse des Nations)

Autor(a): Simone de Beauvoir

Tradutores:
Manuel de Lima
Bruno de Ponte

Coleção Ensaio
Editora: Minorauro

Resumo feito por: Membros de grupo de estudo "Liberdade e Ambiguidade: Compreendendo Beauvoir" da Universidade Estadual do Ceará ( UECE)


O presente livro é uma compilações de 4 artigos da autora, inicialmente publicados na década de 40, na revista Les Temps Modernes e que em 48 foi publicado em forma de um livro.




Prefácio e o artigo "O existencialismo e a sabedoria das nações"

Artigo: "O Idealismo Moral e o Realista Político"

Artigo: "Literatura e Metafísica"

Artigo: "Olho por Olho"

O existencialismo e a sabedoria das naçõs- Parte XI (Final)

Resumo do artigo IV: Olho Por Olho
Páginas: 117-127

Afirmando que todo castigo é um fracasso uma vez que da vingança pode surgir uma tirania e a sanção não passa de uma forma vazia de significado e que o princípio do castigo é mau, não  seria então melhor perdoar? O homem seria livre no mal? Acontece que o homem não é inteiramente bom ou mau, não é essa plenitude. Sócrates dizia que ninguém é mau voluntariamente, quem é mau também quer o bem, nem que seja o seu próprio. E numa profunda análise, quem poderia afirmar que é melhor que o outro? Conhecendo de perto por meio da educação, desejos, do comprometimento da pessoa no mundo, qualquer ação da mesma seria explicada; até mesmo a de Hitler.

Os atos nefandos  já não seriam mais odiosos. Aos olhos de um criminoso seus atos não não tão terríveis, na verdade são até plausíveis. Mas se esses próprios atos fosse visto sob uma outra perspectiva? A tortura não mais vista pelos olhos do carrasco, mas de quem a sofreu. Simone de Beauvoir cita como exemplo a reação de certos carrascos de Belsen no processo de Luneburgo, onde chegaram a compreender a dimensão de suas ações ao olharem sobre outra perspectiva, sobre a perspectiva das vítimas, sobre a da sociedade que rejeitavam tais atos. O ódio e a vingança visam a intenção do ato, contudo, um erro não exprime o que o homem é, ele deve ser condenado por uma única ação que não é mais expressão de uma liberdade? O culpado pode ter mudado e se realmente mudou, para quê serve a punição? 

O cristão encontra uma desculpa para seus pecados na queda original. Nenhum ato humano é escandaloso, a terra já o é aos olhos de Deus e somente Ele pode julgar, deve-se perdoar para que Ele nos perdoe. Simone não nega que há uma certa verdade no ponto de vista anterior; o ato realizado tem que ser julgado juntamente com o homem que o realizou, um não possui sentido nem realidade sem o outro. Mas esse mau ato pode ser atenuado com outros atos estranhos e ele, e o culpado aos olhos dos outros homens por um novo; optam por seu futuro, oferecendo uma nova oportunidade. Porém, tal coisa não é possível quando um homem degrada o outro deliberadamente em coisa, pertence ao homem o direito de punir.

O homem é um ser livre; ele é livre para escolher os atos que realiza; ele é responsável tanto no mau quanto no bem. O mal é a recusa em se comprometer em nome do bem. E Compreender um ato não é desculpar. Compreende-se a situação de onde uma liberdade se decide, e se foi uma decisão, foi uma  escolha. Podia ter escolhido não ter traido seu pais, não ter matado, no entanto, traiu e matou.

Uma questão é colocada: A quem tem o direito de punir? Quanto mais a justiça renunciar seu caracter expressivo, mais seu significado é perdido, mais seu domínio do mundo concreto se perde. Os tribunais querem expressar o direito impessoal regidos por uma lei universal, que na opinião da autora é a herança kantiana mais deplorável. O problema é que o acusado existe na sua singularidade, a morte é um acontecimento real, o castigo é justificado por um momento de conflito real e a punição precisa ser ligada a culpa por liames concretos. Entretanto, não se pode aceitar uma justiça pronta com seu princípio na passionalidade de indivíduos, pois essa liberdade do vingador pode transformar-se em tirania.

No crime o homem é homem e coisa, expressa a ambiguidade da condição humana. Realmente o castigo tem uma parte de fracasso, assim como os empreendimentos do homem. A vingança não traz uma justiça serena, mas o homem que é livre para escolher, é responsável, os autênticos criminosos devem ser punidos. O castigo reconhece o homem livre no mal e no bem, distingue o mal do bem de caordo com o uso de uma liberdade faz de si, o castigo quer o bem.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Resumo: O Existencialismo e a Sabedoria das Nações – Parte X

Artigo IV: Olho por olho – Parte 2
Páginas: 109 até 117.

O que há de digno em uma vingança? O que está por trás de um castigo? Nos parágrafos que se seguem nas referidas páginas do artigo Olho por olho, Beauvoir busca explicitar a validade da vingança e o significado do castigo.

A vingança não é legalmente aceita, quando efetivada pela vítima por sua própria conta, mas é essa a vingança mais viva, mais satisfatória. É mais autêntica a vingança quando executada no calor da situação, no latejar da ferida aberta. As vítimas torturadas nos campos de concentração não sofreram nenhuma espécie de reprovação ou represália por atentarem contra os carcereiros S.S., mas logo após a libertação dos prisioneiros as vinganças individuais foram proibidas.

“É tanto mais pura quanto mais for baseada num ódio mais concreto (...). Mas torna-se suspeita desde que o vingador pretenda arvorar-se em juiz.” (BEAUVOIR, Simone. pág 109).

O mesmo ódio que justifica e valida a vingança, pode também ser usado como desculpa para gerar mais violência e legitimar um ilusório poder. É devido a essa possibilidade de se camuflar um ato despótico que a vingança privada não é legal. Não sendo permitida uma vingança imediata e passional, a vítima é obrigada a recorrer a uma instituição especializada, onde a vingança passa a ser sanção. No âmbito da legalidade, a perspectiva muda. Em nome dos direitos universais leva-se em consideração, além da visão restrita e passional da vítima, a análise mais apurada da totalidade do ser que se tornou carrasco em determinada circunstância. A análise da totalidade demanda tempo, o que de certa forma “esfria” a necessidade de vingança. Poder-se-ia concluir, assim, que a legalidade proporciona certa inautenticidade na vingança, devido à ausência de imediaticidade de seus processos. Mas é graças a esse tempo que muitas vezes o castigo exerce sua função mais efetivamente. O castigo nada mais é que o meio utilizado para proporcionar a conscientização do culpado, a apreensão da crueldade de seu ato. O culpado se conscientiza e isso o torna outro ser; ele não é mais aquele algoz de outrora. Isso significa que o indivíduo que sofrerá a punição não é merecedor da mesma.
Enquanto o indivíduo visa uma vingança mais próxima da lei de Talião “Olho por olho, dente por dente”, as sanções tendem a aplicar punições que visam uma eliminação do culpado do meio social O que fazer então, priorizar uma vingança autêntica sem a possibilidade de uma conscientização, ou esperar por uma possível justiça que se aplicará a um ser diferente daquele a qual a vingança se dirigia? Beauvoir propõe uma reflexão aprofundada acerca do mal que gera a violência e do ódio fruto da maldade, que conduzirá à uma análise existencial do homem.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Resumo: O Existencialismo e a Sabedoria das Nações - Parte IX

Artigo IV: Olho por Olho - Parte 1
Páginas: 97 até 108.

Aqui contém a primeira parte do resumo do último artigo do livro O Existencialismo e a Sabedoria das Nações, intitulado: Olho por Olho; que como o próprio nome nos remete, irá tratar sobre a vingança e castigo contra àqueles que nos fazem mal, e conseqüentemente as questões levandadas sobre tais ações. Vale ressaltar que devido ao momento histórico em que foi escrito, a autora usa como exemplos acontecimentos e criminosos da 2ª Guerra Mundial.


Simone de Beauvoir inicia-se com uma frase do Grachus Bubeuf " Os nossos carrascos criaram-nos maus costumes", para expor que o sentimento de vingança mais ardoroso e latente só foi experimentado diante da opressão nazista. Anteriormente, em face de um crime, o responsável por tal ato era dito como um reflexo de um regime social desigual, pois solidarizar-se com os tribunais seria defender tal regime desigual; um assassinato podia causar horror mas não ressentimento. Havia raiva e desprezo por àqueles culpados, contudo, não havia o verdadeiro sentimento de vingança.

A partir de 1940, esse estado de complacência muda, a humilhação e morte dos inimigos torna-se um desejo comum. Quando o tribunal condena um criminoso de guerra ( delator, colaboracionista), ao contrário do que antes acontecia, as pessoas clamam para si próprias o veredito, as sanções, uma vez que é em nome delas que as mesmas são proclamadas. O exemplo disso é que quando Mussolini, os carrascos de Khakov e Darnand foram condenados, as pessoas felicitavam umas as outras, pois os crimes destes as atingiram, e por meio da punição dos culpados os valores, as razões de viver são afirmadas. A atitude em relação aos criminosos comuns não mudou, como também não mudou o regime desigual e nem as velhas desculpas. Simone de Beauvoir diz:
"(...) Mas na medida em que é recusa das tiranias, em que se esforça por restabelecer a dignidade do homem, essa sociedade é nossa; experimentamos a nossa solidariedade com ela, somos cúmplices das suas decisões." ( BEAUVOIR, Simone. de. pág. 99)
Durante a ocupação nazista, o papel de ser juiz e carrasco - que é realizado ao mesmo tempo- era reivindicado com entusiasmo, assim como a facilidade em sentir o ódio ao saber dos crimes cometidos pelos nazistas e seus simpatizantes. Dizia-se " Hão de pagar!" e tal frase continha nela uma promessa de uma alegria em toda essa cólera. Subseqüentemente, não foi isso que ocorreu. A decepção da vingança contra os opressores da 2ª Guerra Mundial foi devido às circunstâncias em grande parte. Os grande criminosos afundaram tão brutalmente que o aspecto de expiação não foi tomado, o comportamento do povo alemão foi desconcertante. A tão desejada reciprocidade dos atos vis tornou-se insatisfatória; o que está em causa é a própria ideia do castigo. A sanção é dotada agora dos sentimentos experimentados concretamente ( vingança, justiça, perdão, caridade), revestidos de um novo sentido inquietante. Simone questiona acerca do homem com sua vingança, pois será o homem fundamentado? Será possível satisfazê-lo?

No momento da punição, os dois lados estão numa relação de luta e nela, o inimigo é visto como um objeto, uma coisa a ser superado, sendo sua exterminação " um meio necessário ao êxito final " ( BEAUVOIR, Simone. de. pág 101). Na Guerra, as mortes servem para intimidar o inimigo; nas execuções de caráter exemplar o castigo tem como objetivo a pessoa que o suporta, e não necessariamente a evitar que o mal realizado ( pela pessoa a quem o castigo visa) seja repetido. Por exemplo, seria absurdo acreditar que a execução de Mussolini vá evitar o surgimento de novos ditadores. A vingança corresponde a um sentimento transcendental, a uma das exigências metafísicas do homem, e essa significação tão profunda é descoberta ao examinar a sociedade nas formas em que ela está envolvida.

O dia seguinte a libertação da França dos nazistas, ocorreram vários casos de vinganças pessoais e coletivas, execuções de certos milicianos e massacre aos carcereiros da S.S. pelos libertos. Em todos esses casos o castigo visava à morte, o sofrimento daqueles opressores, que fez surgir o ódio por meio de seus atos nefandos. E isso parecia ser suficiente.

Aqui, o ódio não é uma mera paixão, denuncia, reclama que uma realidade seja banida do mundo; pois se odeia os homens como autores conscientes de um verdadeiro mal. Se um soldado em um combate mata o outro, este ato não é motivo para ódio, já que na batalha há uma relação de reciprocidade. O escândalo aparece quando o homem trata seu semelhante como objeto lhe negando a sua existência de homem. O ódio se limita a liberdade quando se empenha na degradação do homem em coisa, e a vingança é usada como um meio para destruir a liberdade do culpado.

"Hão de pagar!" é uma expressão apropriada, nela está contido um sentimento de reciprocidade, assim como na conhecida Lei de Talião " Olho por olho, dente por dente" que corresponde a uma profunda exigencia humana de reciprocidade e compreensão - este no sentido Heideggeriano, uma vez que o torturador deve sentir na pele o que antes fez o torturado sentir, experimentando a ambiguidade de sua condição de ser humano.  Todo homem é objeto para outrem, sujeito para si e reivindica ser reconhecido como tal. e essa "(...) afirmação de reciprocidade das relações inter-humanas é a base metafísica da ideia de justiça" ( BEAUVOIR, Simone. de. pág 105.). A vingança tenta restabelecer a liberdade que outrora fora soberana, embora pareça contraditória, uma vez que quer limitar uma liberdade, é com este preço que ela é autêntica. Mas a vingança não é plenamente realizada quando o carrasco compreende por si próprio ou por pressão exterior a ele, a gravidade de seus atos e resolve aplicar a si mesmo a lei de Talião, tal feito continuaria a injuriar da vítima. Beauvoir atenta que a violência por ela mesma não basta, pois esta é destinada a fazer com que o culpado reconheça sua condição e esse reconhecimento vem por meio de uma necessidade exterior, o castigo.

Caso o sofrimento imposto for exagerado, a mente criminosa ficará entorpecida pela dor; se for poupado, teria sua autonomia mental, sofrendo com revolta, ironia, poderia até mesmo encontrar uma espécie de felicidade no cativeiro; nesse caso o castigo perderia seu efeito. Por causa dessa contraditoriedade, ao longo da História, homens verdadeiramnete vingativos recorriam a criatividade para punir seus inimigos, exemplo disso é a técnica de tortura chamada de quaresma, que são 40 dias de lentos sofrimentos com alternância de castigos mais pesados para castigos mais leves, com a gradual suspensão da alimentação, até reduzir a consciência do culpado. Pode ocorrer da pessoa sofredora da tortura da quaresma morrer no final ou antes doa 40 dias. E quando isso acontece é desolador, pois é furtado o castigo do torturado para fora do mundo.

A morte de Hitler foi uma frustração, pois ele não contemplou sua própria ruína, não compreendeu. Em contrapartida, o momento em que Mussolini grita diante do pelotão de fuzilamento: "Não!", é mais gratificante em que o momento em que ele cai sem vida.  A vingança perfeita reside apenas nos folhetins, não há como perpetuar o momento de compreensão do inimigo e muito menos dispor dele para sempre, então é forçoso matá-lo, pois na vingança deve ter a dispersão temporal.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Resumo O Existencialismo e a Sabedoria das Nações - Parte VIII

Artigo III: Literatura e Metafísica.

Simone de Beauvoir começa o artigo ressaltando as diferenças encontradas na experiência de ler um tratado filosófico e um romance. Enquanto o filósofo comunica a sua experiência, ao romancista cabe a tarefa de imaginar uma situação onde esta possa ser posta em prática, ou seja, a ideia filosófica será apreendida no mundo real. O romance fará o leitor reagir e se comover com os acontecimentos antes de ser ater a juízos filosóficos. Para Beauvoir, o bom romance é aquele que não se reduz a fórmulas. O autor de um romance não deve "fazer pressão" no leitor nem forçá-lo a aderir as suas teses. Ele deve convidá-lo a um diálogo livre:

"(...) o romance só se reveste do seu valor e da sua dignidade quando constitui para o autor como para o leitor uma descoberta nova" (BEAUVOIR, Simone de. pág 83-84)

O romance não deve ser manufaturado, nem seus personagens previsíveis. A liberdade do personagem, na verdade, é a liberdade do autor. Ao autor é necessário acreditar no que se está escrevendo a fim de que surjam novas "verdades" à medida em que a história se desenvolve. É necessário correr o risco. O romance psicológico baseado na psicologia teórica falharia porque estaria preso a um sistema e não teria liberdade, sendo trabalhado apenas no plano abstrato. Porém, o romance psicológico, baseado na singularidade da experiência humana nos ensinaria muito mais. Analogamente, Beauvoir explica a relação "Metafísica X Romance". Primeiro, você não "faz" metafísica, e sim você "é" metafísico, se põe no mundo. Todo acontecimento humano tem uma significação metafísica. A literatura serve à metafísica e a metafísica serve à literatura. A alguns autores, sua filosofia é melhor compreendida sob a forma de romance e vice-versa. É o esforço para conciliar o objetivo com o subjetivo - esforço esse usado para exprimir o pensamento existencialista.

O escritor do romance não deve explorar as verdades pré-estabelecidas, mas sim usá-las na experiência, singularmente. Deve-se deixar de lado o caminho estreito que é seguir traços psicológicos ou sistemas filosóficos pré-determinados e deixar que o romance flua. Ao leitor também cabe a tarefa de se deixar levar pelo romance, não se preocupando em decifrar códigos, nem procurar traduzi-lo, esquecendo de somente se deixarem levar pela história. O romance metafísico tem como intuito provocar descobertas e apreender o homem e os acontecimentos humanos nas suas relações com o mundo.