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terça-feira, 31 de agosto de 2010

O Pensamento do Direita Hoje - Capítulo 4

A História

Para tratar da concepção da História propagada pelo pensamento de direita, Simone de Beauvoir utiliza-se preferencialmente das teses de Burnham, Spengler, Toynbeee. Embora não esteja preocupada em examinar aqui os sistemas destes, a autora expõe a ideia geral e até mesmo contraditória destes pensadores.

Burnham afirma que a natureza humana é pervesa e é imutável, pessimismo esse que já basta para condenar a História, que seria feita pelos Estados Maiores, onde o movimento histórico seria realizado pela luta de poder entre as elites. Nessa sucessão entre as elites não há realmente uma finalidade, há simplesmente uma luta de poder pelo próprio poder, os homens não ganham nada. Essa ideia de Burnham é facilmente usurpada pelos anticomunistas que querem desacreditar a ideia de revolução. Aron e Monnerot, por exemplo, utiliza-se das concepções de Burnham para combater o "romantismo revolucionário".

Mas esse pessimismo de direita não vem sozinho, traz consigo um certo misticismo. Se a História é absurda como afirma Burnham, como a Elite se salvará, pois é ela própria que faz a História? Burnham nem sequer sente necessidade de se justificar uma vez que está alienado pelo anticomunismo.

Spengler e Toynbee tem um pouco mais de recursos em seus respectivos sistemas, embora traga uma visão mais trágica do mundo e condene todas as civilizações à morte, que nasce por meios inumanos; a insignificancia da humanidade é proclamada. A História estaria subordinada ao Cosmos e haveria até mesmo uma salvação sobrenatural para certos homens e em cada ciclo histórico há formas que transcendem a própria história e estas são harmoniosamente ligadas aos interesses dos privilegiados.

Em Spengler o objeto e a realidade da História nada tem haver com "a existência da besta humana", e realidade histórica dependeria de um fator cósmico. "Uma cultura nasce no momento em que desperta uma grande alma; uma cultura morre, quando a alma realizou a suma inteira das suas possibilidades sob a forma de povos, línguas, doutrinas religiosas, artes, Estados, ciências, e assim volta ao estado psíquico primário". Já em Toynbee há vagamente uma idéia de progresso, contudo, este não é recaído nas indignas mãos humanas e muito menos nas mãos de quem não seja um privilegiado, mas sim um progresso espiritual.

A história concebida pelo pensamento de direita não é realizada pelas ações dos homens e sim pelas exigências do Transcedente. Para eles é importante manter esse quietismo catastrófico que serve a ordem que já está estabelecida, ou seja, a ordem dos privilegiados, que para eles há um consolo, pois quando a elite for liquidada, já que possuem uma visão de morte e nascimento das civilizações, pelo menos esse fim será espiritual.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Pensamento de Direita Hoje - Capítulo 3

A Teoria da Elite

Nesse capítulo a autora irá argumentar acerca do pensamento da elite burguesa com relaçao ao comunismo. Para a elite, tanto proletarios quanto intelectuais vivem fora da realidade devido as imagens, os afetos ou ideias, tanto externas quanto internas. Ao se afastar do mundo, o homem se afasta dos seus semelhantes, tendo como único intuito seus próprios interesses. Para Monnerot, assim como para os pensadores de direita, o mundo está repleto de pessoas que enganam e daqueles que se deixam enganar, onde os movimentos são desprovidos de quaisquer finalidade. Dessa forma, a elite sentindo-se a única classe privilegiada se insere num sentimento de naúsea com a existência de "homens bárbaros".

Para tanto, Beauvoir irá mostrar que para obter o Direito a burguesia eleva seus pensadores acima da humanidade, usando-se da ideologia religiosa para alcançar suas pretensões. Assim, o burguês passa a afirmar que Deus o escolheu e quanto aos preteridos restavam-lhes apenas a resignação. Dessa maneira, a burguesia se utiliza até os dias de hoje do pensamento cristão como forma de justificar a exploração do homem, uma vez que o homem é uma coisa que necessita ser explorada, como afirmava Paul Claudel.

O cristianismo tornou-se com o tempo uma doutrina ambígua, pois todo homem é uma criatura de Deus, mas sempre existem aqueles que exploram os outros. Assim, Deus deixou de servir como justificativa para a dominação do homem sobre o homem. Então, Beauvoir nos apresenta o cume do pensamento burguês, onde seus interesses se tornam valores, a existência do privilegiado é sagrada, eles são superioridades, são a elite, e dessa forma se justifica a desigualdade. Segundo Nietzsche, utilizando-se de Maquiavel, só a existência dos privilegiados possui alguma finalidade; a massa não passa de inúmeros indíviduos com os mesmos rostos, todos iguais.

Para Spengler, somente a nobreza existiria na realidade, na história, toda a massa camponesa seria um momento da história do planeta; assim, a vida e a história representam a mesa coisa. Nesse contexto, a raça passa a se realizar na humanidade camponesa. Por outro lado, a burguesia não possui substância como a nobreza, uma vez que é surgida do conflito entre as cidades e o povo camponês.

A política sacrifica os homens com uma finalidade, enquanto que a economia apenas os mata; há assim uma diferença entre morrer de fome e morrer por um fim, onde na primeira não há nenhuma glória, enquanto que na segunda se morre como herói. Durante a guerra, muitos burgueses associaram sua causa com a causa nazista, acreditam que lucrariam mais com essa ideologia, entretanto o nazismo perdeu a guerra.

Para a elite o valor não é algo que se adquire, mas sim algo que está vinculado a raça, que é inerente a ela. As massas nada mais são do que animais, segundo a burguesia, e dessa forma são guiados por leis como os rebanhos de animais. Quando reduz-se o homem a si mesmo temos a impressão de que ele é destituído de qualquer significação. A nobreza tornou-se uma característica, uma qualidade que é inerente a própria alma, é algo que se encontra na transcendência, para tanto, é participando do ser que o homem possui dignidade.

O homem quando se torna membro da massa já não existe como ele mesmo, ele é, segundo Jaspers, o terreno perfeito para propagandas tendenciosas. O homem é, então, incapaz de transcender à sua própria história, a sua própria existência.