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sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Segundo Sexo, Capítulo 3 - O ponto de vista do materialismo histórico.

Simone de Beauvoir inicia o capítulo três da primeira parte intitulado “O ponto de vista do materialismo histórico” afirmando:

A teoria do materialismo histórico pôs em evidência muitas verdades importantes. A humanidade não é uma espécie animal: é uma realidade histórica. A sociedade humana é uma antiphisis: ela não sofre passivamente a presença da Natureza, ela a retoma em suas mãos. Essa retomada de posse não é uma operação interior e subjetiva; efetua-se objetivamente na práxis. (BEAUVOIR, 2009, p. 87)

            Sendo assim, portanto, a mulher um ser que também não pode ser reduzido a simples condição de “animalidade”, ou pela sua situação biológica. Ela, a mulher, “reflete uma situação que depende da estrutura econômica da sociedade, estrutura que traduz o grau de evolução técnica a que chegou a humanidade.” (Idem. Ibidem).
            Beauvoir, até aqui, dá razão a Friedrich Engels (1820 – 1895), e também quando este afirma que é a partir da descoberta do cobre que os homens compreendem como podem expandir-se em agricultura, e transformar a natureza. Porém, o repreende quando este tenta explicar que a diferenciação entre homem e mulher está unicamente dependente do avanço tecnológico. E diz mais:

O materialismo histórico [entenda-se aqui Engels em seu “A origem da Família”] considera certos e verdadeiros fatos que seria preciso explicar. Afirma, sem discuti-lo, o laço de interesse que prende o homem à propriedade: mas onde esse interesse, mola das instituições sociais, tem, ele próprio, sua origem? [grifo nosso] (Idem. p. 90)

            Ou seja, para a autora Engels procurou explicar tanto o interesse do homem pela propriedade privada quanto a diferenciação da condição do homem para a condição da mulher unicamente pelo viés do materialismo histórico, não podendo este abarcar o homem em sua totalidade, mas apenas em “essa abstração que se denomina homo oeconomicus”. (Idem. Ibidem). E afirma: “É claro, por exemplo, que a própria ideia de posse singular só tem sentido possível a partir da condição original do existente.” (Idem. Ibidem).
            A condição original do existente, entendemos como a “falta constitutiva do ser” e o movimento de transcendência. É porque originalmente o homem deseja algo, anseia por algo, que procura transcender, ou melhor dizendo, superar uma determinada situação-limite. Beauvoir (2009, p. 92) entende o homem como “transcendência e ambição que projeta novas exigências através de toda nova ferramenta”. E é por isso que a partir da descoberta do cobre pode e quis “arrotear e cultivar vastos campos”, porém não foi do cobre que “jorrou essa vontade”, e sim do próprio homem. (Idem. Ibidem).
            Quando a propaganda socialista da antiga URSS afirmava que homens e mulheres eram iguais e livres porque eram considerados unicamente trabalhadores com as mesmas possibilidades, o que foi possível com a chegada das máquinas modernas, Beauvoir entende que não se pode afirmar isso sem má-fé.
            Em resumo, a autora pretende que entendamos que nem o ponto de vista puramente biológico, nem o sociológico ou materialista, ou econômico, nem o ponto de vista psicanalítico podem compreender o homem em sua totalidade e inteireza, procuram negar, ou escamotear outras partes também significantes da vida do homem e “há uma infraestrutura existencial que permite, somente ela, compreender em sua unidade essa forma singular que é uma vida.” (Idem. p. 94). Tanto no freudismo quanto no marxismo existem elementos positivos para essa compreensão total do homem, porém não chegam em sua totalidade. É preciso primeiro entender o valor que o próprio homem dá em seu projeto fundamental. E mais, é preciso entender que o homem é projeto fundamental de existência “transcendendo-se para o ser”, ou seja, é todas as suas instâncias em um só instante.

PS: Este resumo foi feito a partir de:
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. tradução de Sérgio Milliet. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. 2v. pp. 935