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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Pensamento de Direita Hoje - Capítulo 9

Valor e Privilégio

A ordem que favorece a Elite não poderia ser mais clara: o que conta não são os homens, mas uma realidade acima dos homens numa sociedade hierarquizada. Evidentemente é nessa realidade sobre-humana que a Elite se encontra; e para se encontrar ou alcançar uma verdade, deve-se aceitar essa hierarquização. É a utilização da máxima "igualdade na diferença" que os privilegiados fazem valer, acontece é que esses diferentes não se sentem iguais e é a indisciplina destes que os fazem cair na massa, que por sua vez não possui uma existência ligimitizada aos olhos da Elite. O pensamento excludente entre massa e valor continua.

A Elite pretende se apoiar em valores universais onde poucos são os que detém tais valores. Aqui poderia se pensar: Que valores? Valores vitais, espirituais ou materias? E sendo materiais, não seria indigno? Ingênuo aquele que pensa ou quer que a virtude tenha um fim em si mesma, que o sábio ou o héroi não reclamem salários maiores por guiar os outros; que os políticos não queiram privilégios por estar no poder.

É pela idéia de mérito que a burguesia une a iéia de valor com a de gozo. Scheler diz que tais valores de prazer não são dados pela "justiça", mas pelo valor de vida. Ou seja, tal classe de privilegiados podem desfrutar-se do ócio e de sua liberdade burguesa justamente por possuirem uma virtude superior, um privilégio, de fato.

Entretando, ao injetar nesse sistema tal materialidade, pode-se pensar por qual motivo sagrado essa dependência empírica dos Eleitos não se aplica aos outros homens? Jaspers tentar responder tal dúvida afirmando e proclamando uma "nobreza da humanidade" em tais privilegiados; o Transcedente exige uma sociedade hierarquizada e se os privilegiados não possuirem o controle econômico sobre a coletividade, correriam o risco de se massificarem. Simone de Beauvoir retruca sarcástica: "O sistema é por demais coerente: tem a coerência de uma tautologia."

O que realmente difere o Eleito dos outros homens é justamente seu valor que tem como fundamento esse seu privilégio.  O privilegiado tem um forte instinto de conservação e pretende justificar e perpetuar sua condição, mesmo que tal pensamento não se sustente por si só.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Pensamento de direita hoje - Capítulo 8

A Arte

A aristocracia de direita profere que se deve preferir à Beleza aos homens, tal afirmação consiste como sendo um de seus dogmas. A beleza é uma realidade projetada acima da nossa pobre realidade mundana; constitue a verdade do humano, mas é preciso que ela se mantenha contra os homens, pois como Drieu la Rochelle diz: "a humanidade é feia venha de Chicago ou de Pontoise".

A sorte da Arte e da Beleza estão intimamente ligadas. A beleza se realiza plenamente na arte que é uma realidade dada que se aprende pela contemplação estética; é também por ela que o homem transcende seu próprio ser. A arte vai de contra ao destino, pois supera a mortalidade  do homem que a fez e o tempo em que é realizada; está ancorada na eternidade. Por isso que os estetas recriminam esse mundo empírico em que se vive, por causa de sua data de validade, seu caráter absurdo e o caos.

Para os defensores da arte, a importância  da arte sobrepõe-se aos outros valores eternos, pois ela possui uma realidade ao qual tanto a direita quanto a esquerda reconhecem: os outros valores não passam de equívocos inapreensíveis. A esquerda reconhece essa realidade da arte, assim como sua importância, mas se pergunta com que direito a direita confude a causa da arte com a dela própria. Tal fato, Simone de Beauvoir diz que é recente; por exemplo na literatura aconteceu uma revolta contra a burguesia, mas o momento negativo da revolta não foi ultrapassada. Não é mais possível fazer uma revolta contra a burguesia sem estar do lado de seus adversários, pode -se compreender com a máxima: "Resista ou Sirva". Se antes a poesia servia de crítica contra os valores, hoje ela serve à essa mesma burguesia.

Não há uma arte puramente autêntica, do mesmo modo que não há uma moral desse modo, que imobiliza o  humano. Uma arte pela arte está fadada ao fracasso, do mesmo modo com uma moral com valores eternos e inumanos. As obras apreciadas pelos intelectuais burgueses mais se parecem com pastiches ( uma obra que imita grosseiramente o estilo de outros autores famosos). Um novo Sthendal ou um novo Rimbaud deveria não apenas imitar o estilo desses, mais ir alem das barreiras estabelecidas.

Aron e Monnerot afirmam que não é possível haver arte numa barbárie, como no comunismo e quem discorda deles, são acusados de "promoção" as custas do comunismo. É a Arte em pessoa que afirmaria e não os artistas, segundo o Sr. Stanislas Fumet, não é possível fazê-la na servidão, acontece que essa liberdade que a Arte está proclamando é justamente a da burguesia, a da miséria, a da corrupção; pois essas são úteis para que o artista viva a diversidade da vida. Seguindo essa linha de pensamento tão libertária, o que seria milhões morrendo de fome perto da eternidade de uma poesia de Montherlant? A infelicidade é necessária ao Transcedente, que é necessária à Beleza e à Arte. As doutrinas, as políticas que pregam a felicidade do homem são antiestéticas, o mundo tem que ficar como está. Tal pensamento traz dentro dele uma disseminação de um conformismo para que o poder continue nas mãos de quem está, pois dizem que "haverá sempre infelicidade sobre a terra". Segundo Dionys Mascolo "esta arte cúmplice da infelicidade não pode ser grande arte. Ela termina por trair a infelicidade, por trair a infelicidade e, assim, trair-se a si mesma.". Esse amor sem freios ao belo não nasce de um esteticismo, mas de um recentimento, diz Sartre.

Massa e arte se excluem, pois só é belo o que é raro e precioso, ao vulgarizar destroi-se a beleza e o valor artístico. É nesse princípio de exclusão entre as massas e a arte em que a estética da direita se fundamenta. Não haveria aquilo que tornaria os intelectuais diferente dos demais, de nada adianta se o melhor vinho é produzido em série com a mesma qualidade e gosto, de nada adiantaria uma obra de arte feita em série até mesmo com as imperfeições que a torna única. O que antes era raro e precioso, não passa de algo vulgarizado e sem valor.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Pensamento de direita hoje - Capítulo 7

A Moral

Beauvoir começa nos dizendo que num período anterior a guerra, a moral da direita se apresentava muito mais heróica, onde o homem atuante na Historia é o herói. Essa atuação que estabelece a verdadeira comunicação entre os homens acontece por meio da violência, da guerra. Dessa maneira, percebemos que o homem se afirma por meio da guerra, da destruição do próximo; dessa forma é que a existência de realiza. Afirma Drieu: “Nada se faz senão com sangue.”.

Entretanto, todo o sangue derramado não mais serviu para afirmar a existência, uma vez que não se prega mais o heroísmo, mas sim a sabedoria. Sendo assim, Jaspers ao conceber um espiritualismo burguês, através de um encontro do homem com ele mesmo, entrega a elite do pós-guerra uma moral pratica diferente daquela filosofia do Transcendente. “O herói moderno, enquanto mártir, não pode ver seu adversário, e ele mesmo permanece invisível no que verdadeiramente é.”, dessa maneira, o herói deixou de ser herói e passou a ser mártir. Segundo Jaspers, o questionar-se a si mesmo é transcendente e nos remete a existência de fato; assim, a autenticidade é uma maneira de ultrapassarmos para o Transcendente. Dessa maneira, manter laços com a raça, com o país, com as tradições, representaria uma forma de se realizar.

Segundo Braspart, algumas individualidades permanecem impossíveis de serem vencidas por meio da razão, nada se conseguindo contra elas. Da mesma forma afirma Claude Elsen que o único compromisso que o indivíduo possui é aquele que se estabelece consigo mesmo. Assim, muitos desses indivíduos insubstituíveis sonham com um corpus mysticum.

A única resposta possível a pergunta “ser si mesmo?” será a de que devemos sempre nos diferenciar a partir de nossa finitude singular. Ser si próprio, assim como ser livre representam a mesma coisa, logo, para o europeu a liberdade significa tão somente a de realizar-se, de buscar-se, de diferir-se.

É preciso, entretanto, entender que o sentido da palavra indivíduo está profundamente voltada para o sentido de pessoa: “(...) o indivíduo é insubstituível (...)”; assim o que se busca não é a realização da humanidade em geral, mas do indivíduo. Imaginava-se que esses indivíduos estariam encarregados de uma vocação, mas no mundo moderno, o conceito de vocação teria perdido toda a sua honra em meio aos horrores da guerra.

Beauvoir salienta os privilegiados sempre reivindicam aquilo que lhes é vantajoso, mas nunca aquelas diferenças que são desvantajosas, uma vez que nunca se reclama a miséria ou a escravidão. Falar de um passado onde os oprimidos eram honrados por uma vocação que de certa forma lhes era imposta, é na verdade uma piada de muito mal-gosto. Assim, afirma Aléxis Carrel, que a organização dos negócios, bem como da produção em massa só tende a diminuir o desenvolvimento da pessoa humana.

Finalmente, intelectuais europeus como Rougemont e Jaspers afirmam que só os eleitos conseguem se realizar como pessoa, através de sua resistência à massa: “Atribuir a todos os homens a dignidade de uma pessoa, seria estabelecer sua igualdade, seria o nivelamento, a uniformização, o socialismo.”. Dessa forma, fica claro que se trata aqui, ainda, de uma negação das massas em favorecimento das elites.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Pensamento de Direita, Hoje - Capítulo 6

O PENSAMENTO

Neste capítulo Simone de Beauvoir afirma que os teóricos burgueses “professam um subjetivismo psicofisiológico” que retira as ideias do objeto pensado e a colocam somente na mentalidade do sujeito. Com este pensamento afirmam haver uma determinada essência que é expressa como: “uma alma negra, um caráter judeu, uma sabedoria amarela, uma sensibilidade feminina, um bom-senso camponês, etc.” Dizem que há uma essência e que esta “define a região do ser que é acessível a cada um”, ou seja, um camponês necessariamente “tem uma intuição mais certeira da terra que um agrônomo formado”, pois é um camponês. Com isso, embasam-se em uma espécie de teoria do conhecimento spengleriana chamada tato fisiognomônico. Isto desemboca em afirmações como: “Um desenraizado, um sem classe, jamais pode compreender a classe ou a raça em que está como intruso.” Este sistema aqui indicado, segundo Beauvoir, permite restabelecer aos homens de direita o critério da autoridade.

Em outro momento do mesmo capítulo, Beauvoir afirma que os homens de direita se fazem místicos e ligam a Verdade e a Liberdade ao silêncio e ao Transcendente. E, no entanto, prova-se que isso é uma falácia dos burgueses, pois eles o que mais reivindicam é a liberdade de expressão, e que de fato “eles não acreditam muito em mesas que giram movidas por forças ocultas.” Porém, para impor sua autoridade propõem isso como “verdade”, o misticismo e o silêncio daqueles não-privilegiados.

Também em outro momento deste capítulo a autora afirma: “(...) sabemos que o conceito de liberdade, se define (...) a partir das liberdades burguesas. A liberdade existe onde os burgueses são livres.” Por isso o exemplo citado de um senhor que afirma a miséria em Haiphong (cidade vietnamita) como liberdade. Tudo se define a partir das normas burguesas e estes pensam encarnar a figura humana, sendo assim, a massa excluída da possibilidade de acesso a este domínio.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Pensamento de Direita Hoje - Capítulo 5

MISSÃO DA ELITE

Como vimos anteriormente em "A História" a burguesia exalta uma moral da ataraxia¹ que serve apenas a si mesma, pois ao mesmo tempo em que condena a história, o burgues busca, por outro, salvaguardar para si "o momento da História que o privilegia", isto é, diviniza-se e exalta "Formas, Ideias, Valores que transcendem a História e precisam ser defendidos". Lógico que estes são os que lhe servem.

Vê-se aqui algo já exposto em capítulos anteriores - ora em entrelinhas, ora mais em voga - o platonismo,o idealismo proferido pela "elite". Criticam aqueles que buscam mudanças políticas que vão de encontro com as ideias que proclamam ser universais: não se devem confrontá-las.

Mesmo assim, ainda defendem uma tese em comum: a do pluralismo. Declamam tal tese com vigoroso clamor a fim de defender seus interesses. A diferença é comum, dizem, não se pode exigir condições iguais para pessoas distintas. Com isso tentam justificar um pessimismo histórico que visa atacar a qualquer possibilidade de combate. Fazem sistemas confusos para explicar esta distinção e justificá-la a tal ponto que faz com que não parecem de fato opressores, fazendo o oprimido sentir-se em seu lugar, camuflando esta opressão.

Beauvoir mostra o argumento de Spengler - que se distingue daquele de verdades universais - mas que ainda assim defende os interesses burgueses. Spengler anuncia que "não há verdades eternas", mas que "o único critério de uma doutrina é a sua necessidade para a vida". Ora, Beauvoir concorda que ele é mais coerente que os demais, pois ele percebe que um pensamento que exalta o pluralismo para se justificar se contradiz com critérios que se querem universais. O que ele faz, aponta Beauvoir, é "substituir o ideal de universalidade pelo reconhecimento de uma multiplicidade de verdades"; o que a burguesia faz, todavia, é impor a sua verdade e camuflá-la como a melhor, segundo o que foi dito no fim do parágrafo anterior.

Em um parágrafo de extrema ironia, Beauvoir fala como se fosse um burgues cínico, que admite que a "civilização burguesa ocidental é a única a que estamos substancialmente vinculados", e que esta civilização não implica em progresso algum, onde o futuro nada significa, é um conceito vazio. A única coisa que interessa é a Forma à qual estão vinculados, apenas o seu presente. A ameaça de decadência que sofrem, isto é, o comunismo, não possui "promessa de uma forma nova". Além de si mesma "tudo é noite e silêncio. Preocupemo-nos, pois, com a Europa, com o Ocidente: nada mais no concerne".

Beauvoir ainda nos fala da concepção de Jaspers, que confirma o que Spengler diz. Jaspers diz que existe uma pluralidade de verdades, as quais se comunicam entre si por conta de certa relação com o Ser, o Trascendente, e que só podem ser vividas em separação, pois a verdade de cada um se choca com a de outrem, e é por ela que "venho a ser eu mesmo; ela não é única, porém é a única e insubstituível enquanto está em relação com outrem". Dito isto, Beauvoir mostra que há aí uma exaltação de uma moral ue privilegia o "ser si mesmo", o abrir-se ao Transcendente assumindo minha finitude, em vez de buscar ultrapassá-la. Mais uma vez irônica, Simone diz: "Portanto, meu dever de burguês ocidental é querer incondicionalmente a civilização burguesa ocidental".

Conclui, então, a autora francesa que o burguês quer mostrar-se como única possibilidade de salvação, porém, mostra a filósofa, essa salvação se operará contra as massas, pois o burguês as vê como "elementos de dissolução" que "desintegram as ordens, provocam os cismas, negam o Transcendente e esvaziam a realidade humana de sua substância" que logicamente só se salvaguarda no próprio burguês. Por meios das massas "tudo se perde e nada se cria". Tudo isso possui como consequência o desprezo pelas massas a ponto de renegar a cada um que a compõe o nome de homem, que culminará em uma exclusão dela como agente histórico se operando também aí um desligamento dela dos campos de valores ético e estéticos, os quais a autora tomará nos capítulos que se seguem.