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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Resumo " O Existencialismo e a Sabedoria das Nações" - Parte VII

Artigo III: Literatura e Metafísica
da página 79 à 87.

Simone começa falando sobre a dificuldade, na qual ela mesma tinha na juventude, de conciliar literatura e filosofia, pois ela as olhava separadamente. A primeira como um expressar da realidade em âmbito imaginário, a outra como também uma expressão da realidade, só que de maneira concisa e sistemática. Mas Beauvoir acredita que só há uma realidade e que, portanto, literatura e filosofia, como manifestações da realidade, unem-se e mostram o mundo de maneira completa.
De início, a autora preza por mostrar o valor do romance. Este traz consigo o peso das experiências vividas ao empreendimento intelectual. Com isso, inquieta o leitor, o fazendo formar idéias, posicionamentos, situação a qual, diz Simone, nenhuma doutrina sistemática pode substituir.
O verdadeiro romance tem que ter essência livre. Não pode prender-se a formulas ou sistemas. Muito menos seus personagens. A sutileza do seu sentido deve ser mantida para que sua influência profunda não se macule. Portanto, o autor de um romance deve manter-se escondido ao leitor, pois este não gosta de sentir-se propositalmente influenciado. Ele quer concluir independentemente. Para isso, o autor deve ter cautela ao construir o romance, pois este deve encontrar-se estreitamente ligado à experiência realmente vivida, deve ter o teor ambíguo e a opacidade da vida real. Então, a investigação é feita não só pelo leitor, mas pelo autor também. Os dois participam deste processo e o texto dilui-se ao leitor de maneira natural e gradativa. O processo é vivo e instigante a ambos. Assim, o personagem romanesco tem autonomia na trama. Seus atos não são pré-estabelecidos pelo autor. Esta liberdade apresenta-se na relação do romancista aos seus próprios projetos. Deste modo, a obra desenrola-se ao longo do percurso e os sentidos irão remeter-se às primeiras idéias, trazendo novos conflitos ou soluções. Pelas palavras de Simone: “o romance aparecerá como uma autêntica aventura espiritual”.
Depois de demonstrar o valor e de como se desenvolve a obra romanesca, introduz a idéia de que o romance metafísico deve ter em si estas características, pois Simone não defende uma filosofia previamente e sistematicamente constituída e independente, mas compreende-a como compreende o romance: como um desenvolvimento livre e instigador. Cita como exemplo o romance psicológico. Não é preciso falar em Freud ou Ribot para se fazer um romance psicológico, pois a psicologia está no cotidiano das relações vividas no real. Da mesma maneira a filosofia. Ela falará que para se fazer metafísica é preciso ser metafísico. Esta se põe na totalidade do mundo.
Sendo assim, literatura e filosofia ambas estão ligadas, já que ambas são parte deste todo que é o real.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Resumo "O Existencialismo e a Sabedoria das Nações" - Parte VI

Artigo II: O Idealismo Moral e o Realista político
Parte final
Páginas 66 até 77.


Na parte final deste artigo, Simone de Beauvoir prossegue com raciocínio, uma vez que já demonstrou anteriormente, o motivo do realista não chegar a lugar nenhum quando se utiliza do pretexto "de se ultrapassar num passo firme" - palavras utilizadas por ela-, já tendo em vista seu carater oportunista. Contudo esse realista tem noção das consequências de seu comportamento, mas espera escapar, unindo a contradição dos meios e fins.

Numa ação política o indivíduo passa a sua ação de si para a coletividade. O que talvez possa parecer uma perda de individualidade, não é, uma vez que a liberdade de um, passa pela liberdade do outro, mas sem oprimir ninguém, pois então, teríamos uma opressão. A coletividade é formada por os indivíduos que participam desta, onde todos são igualmente reais; o presente é o instante, uma sucessão desses instantes é o futuro, que não é fixo, ao contrário, é transitório; já que depende desses instantes.

O realista enxerga a totalidade como una e reduzida, considerando o futuro algo imutável, um fim fixo aonde se chegar. Nesse aspecto, prossegue Beauvoir, torna-se aceitável sacrificar algumas vidas em nome de uma humanidade, o presente em nome de um futuro; um milhão tendo em vista o infinito. Esse é pensamento do realista que adota um pensamento material e quantitativo, numerando vidas numa pura miragem matemática. Acontece que o valor não é dado pela quantidade, depende de uma decisão humana e matando um milhão, haveria um milhão de mortes de indivíduos únicos e igualmente reais.

O futuro depende do presente de cada um, que é definido pelos projetos do indivíduo, ou seja, presente e futuro estão juntos e unidos nesse projeto, que por sua vez tem a capacidade de definir o presente, já que as ações são moldadas para a realização do mesmo, fazendo que nessa ação contenha o impulso para a realização. Nessa escolha a realidade passa a ter um valor.

Exposto tal pensamento, o político não pode se privar de fazer suas escolhas ( onde não há respostas prontas), e ao estar livre de qualquer tabu ou valores estabelecidos, vai assumir-se como liberdade e será mais autêntico. A moral tem se afirmar na sua verdade e percebendo sua essencialidade, tudo seria submetido à ela; que está longe de ser um conjunto de valores, mas é um movimento que o homem verdadeiramente moral faz por sua conta. Torna-se evidente, que o homem deve se livrar de antigos valores e ao tomar consciencia de si, tomará suas decisões por si só.

Caso tenha-se em mente que na existência humana tudo é contigente, o homem moral deve passar essa contigência ao necessário. Aplicar um sentido nas escolhas, em cada ação deve haver nela mesma sua justificação.

Há uma critica a moral clássica, pois as pessoas apenas acreditam na mesma, não procuram ir ao âmago dela, ou questioná-la. Poucos ousam se libertar dessa moral, pois ao assumir-se como seres livres, aparece a responsbilidade de seus atos e ações. Porém, Simone de Beauvoir acreditava que estaria no tempo do homem assumir sua condição de livre, fazendo a moral ter a sua verdadeira aparência, quando o homem justifica suas ações. O homem nessa situação é mais realista, do que os proclamam ser, a verdadeira realidade é aquela afirmada em suas próprias razões; moral e política neste ponto se fundem. Ao reconciliar moral e política o homem se reconcilia consigo mesmo, contudo é mais uma vez resaltado que ele largará sua antiga segurança.

O idealismo não procura se envolver com os defeitos do indivíduo, porém não existe uma realidade ideal ou pura. O moralista só gostaria de atuar por meios que em si também fossem morais, algo impossível, pois não se pode salvar tudo. Beauvoir salienta que o fim e o meio formam uma única totalidade que não pode ser desfeita, e a cada instante é preciso que seja refeita. Não importa qual decisão política seja tomada, por quem que seja, ela sempre encontrará quem não concorde e quem poderia sair "ferido" em tal decisão.

Termina-se o artigo, afirmando que não se pode fugir da liberdade, pois nessa fuga, acabará por si perder. E ao assumir-se livre, estará efetivamente no mundo, uma vez que este passa a ter um sentido. E por conseguinte será a única política válida: esse movimento do indivíduo para o próximo, não o oprimindo e tendo consciencia de suas escolhas, justificativas e responsabilidade.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Resumo "O Existencialismo e a Sabedoria das Nações" - Parte V

Artigo II – Idealismo moral e realismo político (pág. 56 a 66)

Como percebemos no que foi dito no primeiro resumo, Simone de Beauvoir tem a intenção de expor a visão tanto do moralista quanto do político. A autora demonstra o raciocínio de ambos e em que tentam se fundamentar, ou antes, fundamentar a sua doutrina. Ainda neste texto, como discutimos em grupo, nota-se que Beauvoir ainda não tinha desenvolvido a sua moral da ambigüidade, ou seja, ainda não notara a condição ambígua do homem, fato que só acontecerá no livro Por uma moral da ambigüidade. Desta forma, ainda pode ser usado, na sua reflexão, o termo síntese, no entanto, com ressalvas. Dizemos isso tendo em vista ela construir uma perspectiva de moral que tente conciliar alguns aspectos do moralista e outro do político.

Entre outros pontos que serão comentados no decorrer dos resumos e na compilação e revisão final, tem-se aqui a crítica feita ao argumento do político conservador, reacionário: aquele que se põe contra a revolução. Vale ressaltar que quando Beauvoir chama certo homem de político não é uma referência àquele homem que tem a política por profissão, mas, sim, ao que pretende “elaborar o mundo futuro”. Além disso, ela, por vezes, chama o político de realista. Um dos seus pontos positivos é revertido negativamente, pois ao estar voltado em demasia para o mundo, para as coisas, ele não se volta para si. Coloca seus objetivos como exteriores a ele, sendo-os impostos de fora. Segundo a autora, “nenhuma tradição histórica, nenhuma estrutura geográfica, nenhum facto econômico, podem impor uma linha de acção; constituem somente situações a partir das quais os projetos mais diferentes são possíveis”.

Se o realista ao menos reconhece que o fim é posterior à ação, o utopista, ao contrário, ilude-se com fins inacessíveis, o que o torna um sujeito já, por definição, fracassado. O homem é aquilo que faz de si, ele se constitui por meio de suas ações, ele não está invariavelmente preso a uma natureza humana que delimita o seu modo de agir. Deste modo, fazer uma declaração sem procurar efetivá-la não basta para que ela seja verdadeira, assim como não é admissível o reconhecimento de algo sem luta, sem esforço, sem engajamento. Aqui vemos claramente uma crítica aos colaboracionistas que aceitavam a vitória alemã na Segunda Guerra Mundial, ao consentimento e reconhecimento da supremacia alemã. Neste aspecto, a autora francesa diz que a palavra reconhecimento tem um sentido ambíguo, pois o reconhecimento de um “governo é fazê-lo existir como tal”, “é submissão, adesão, recusa”. Com isso, o primeiro erro do realista político é pensar que a realidade está estabelecida, é, assim, compreender mal a existência.

Para Beauvoir, quando se passa ter consciência da política no sentido de elaboração de um mundo futuro, passa-se a tentar atingir fins válidos que sejam justificáveis; pois se não os forem, serão tais como diversas guerras e revoluções que, no fim das contas, foram vãs, ou pior, foram prejudiciais.

Outro problema do político é que, ao fixar um fim como absoluto, ele pode tender a justificar quaisquer meios como válidos para que se atinja tal fim, o que pode vir a culminar em opressão, pois se tudo é justificado por aquele fim, então o sujeito agente pode fazer o que for necessário para o atingir. Outra consideração importante, também relacionada a meio e fins, é pensar não só o fim como absoluto, mas o próprio caminho a ele, como se tudo já estivesse fixo na história. O problema resultante desta outra maneira de pensar acaba por transformar o político em um “técnico puro”, o qual não tem mais que se importar com a moral, pois seu agir já está condicionado ao mundo objetivo que, na sua visão, já está definido.

Bem, Beauvoir então divide o realismo em dois: o conservador e o revolucionário. O conservador, como já comentamos, tem o caráter reacionário, revestido de uma ideologia burguesa. Esforça-se em colocar o operário como força primitiva de interesse material; pensa compreender melhor do que o próprio proletariado a condição em que este vive, acusando-o de materialismo sórdido. O burguês justifica a não distribuição do capital para todos com o sofisma de que seria uma quantidade tão irrisória que a única coisa que faria seria tornar outros mais miseráveis. No entanto, deve-se perceber que a classe operária não luta para se manter viva, mas para conquistá-la em condições que sejam dignas; não se trata aqui de um complexo de inferioridade, mas, sim, de luta por justiça, por uma reivindicação moral. Simone, dentro deste contexto, faz uma consideração importante: “toda interpretação naturalista de uma atitude política está errada, pois a política começa apenas quando os homens passam a ser valores humanos gerais”. Com isto, Beauvoir diz que ao se colocar em um plano político, o sujeito abandona sua situação individual para transcender ao outro. Não que com isso ele perca sua individualidade, mas passa a ver no outro as possibilidades que se lhe oferecem (para melhores reflexões acerca do tema, ver Por uma moral da ambiguidade). Simone diz, então, que o nosso corpo é a expressão objetiva da nossa existência, é por meio dele que agimos e nos fazemos existir. Em virtude disso, diz não ser absurdo se arriscar para conquistar o que se necessita, não de forma gratuita, mas de modo adquirido, batalhado, onde minha existência se engajou. Ademais, quando se pensa a conquista, a revolução, não se restringe apenas ao seu momento, mas em um incessante movimento de confirmação do que o originou.

Por outro lado, o realista de esquerda, o revolucionário, procura “forças aptas a construir o futuro”. Denunciam os burgueses e afirmam a luta como necessária “para que o homem se realize como transcendência e como liberdade”. A crítica dirigida a ele é que ele pensa o fim como fixo, como separado do meio que é visto como mero instrumento, assim como já comentado. Aqui, a relação entre meio e fim é meramente mecânica. O realista, aqui, não tem escrúpulos em mentir, em caluniar, para atingir o fim desejado, ou antes, determinado. No entanto, ao agir deste modo ele abdica a qualquer confiança e respeito que, porventura, poderia ser dedicado a ele. Portanto, ele se reduz para tentar assegurar um caráter de eficácia, não percebendo que assim reduz a política a um “caráter incoerente e desolador”. Neste âmbito, eles tomam o disfarce de oportunista, ligando-se a inimigos para atingirem suas metas.