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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Resumo "O Existencialismo e a Sabedoria das Nações" - Parte V

Artigo II – Idealismo moral e realismo político (pág. 56 a 66)

Como percebemos no que foi dito no primeiro resumo, Simone de Beauvoir tem a intenção de expor a visão tanto do moralista quanto do político. A autora demonstra o raciocínio de ambos e em que tentam se fundamentar, ou antes, fundamentar a sua doutrina. Ainda neste texto, como discutimos em grupo, nota-se que Beauvoir ainda não tinha desenvolvido a sua moral da ambigüidade, ou seja, ainda não notara a condição ambígua do homem, fato que só acontecerá no livro Por uma moral da ambigüidade. Desta forma, ainda pode ser usado, na sua reflexão, o termo síntese, no entanto, com ressalvas. Dizemos isso tendo em vista ela construir uma perspectiva de moral que tente conciliar alguns aspectos do moralista e outro do político.

Entre outros pontos que serão comentados no decorrer dos resumos e na compilação e revisão final, tem-se aqui a crítica feita ao argumento do político conservador, reacionário: aquele que se põe contra a revolução. Vale ressaltar que quando Beauvoir chama certo homem de político não é uma referência àquele homem que tem a política por profissão, mas, sim, ao que pretende “elaborar o mundo futuro”. Além disso, ela, por vezes, chama o político de realista. Um dos seus pontos positivos é revertido negativamente, pois ao estar voltado em demasia para o mundo, para as coisas, ele não se volta para si. Coloca seus objetivos como exteriores a ele, sendo-os impostos de fora. Segundo a autora, “nenhuma tradição histórica, nenhuma estrutura geográfica, nenhum facto econômico, podem impor uma linha de acção; constituem somente situações a partir das quais os projetos mais diferentes são possíveis”.

Se o realista ao menos reconhece que o fim é posterior à ação, o utopista, ao contrário, ilude-se com fins inacessíveis, o que o torna um sujeito já, por definição, fracassado. O homem é aquilo que faz de si, ele se constitui por meio de suas ações, ele não está invariavelmente preso a uma natureza humana que delimita o seu modo de agir. Deste modo, fazer uma declaração sem procurar efetivá-la não basta para que ela seja verdadeira, assim como não é admissível o reconhecimento de algo sem luta, sem esforço, sem engajamento. Aqui vemos claramente uma crítica aos colaboracionistas que aceitavam a vitória alemã na Segunda Guerra Mundial, ao consentimento e reconhecimento da supremacia alemã. Neste aspecto, a autora francesa diz que a palavra reconhecimento tem um sentido ambíguo, pois o reconhecimento de um “governo é fazê-lo existir como tal”, “é submissão, adesão, recusa”. Com isso, o primeiro erro do realista político é pensar que a realidade está estabelecida, é, assim, compreender mal a existência.

Para Beauvoir, quando se passa ter consciência da política no sentido de elaboração de um mundo futuro, passa-se a tentar atingir fins válidos que sejam justificáveis; pois se não os forem, serão tais como diversas guerras e revoluções que, no fim das contas, foram vãs, ou pior, foram prejudiciais.

Outro problema do político é que, ao fixar um fim como absoluto, ele pode tender a justificar quaisquer meios como válidos para que se atinja tal fim, o que pode vir a culminar em opressão, pois se tudo é justificado por aquele fim, então o sujeito agente pode fazer o que for necessário para o atingir. Outra consideração importante, também relacionada a meio e fins, é pensar não só o fim como absoluto, mas o próprio caminho a ele, como se tudo já estivesse fixo na história. O problema resultante desta outra maneira de pensar acaba por transformar o político em um “técnico puro”, o qual não tem mais que se importar com a moral, pois seu agir já está condicionado ao mundo objetivo que, na sua visão, já está definido.

Bem, Beauvoir então divide o realismo em dois: o conservador e o revolucionário. O conservador, como já comentamos, tem o caráter reacionário, revestido de uma ideologia burguesa. Esforça-se em colocar o operário como força primitiva de interesse material; pensa compreender melhor do que o próprio proletariado a condição em que este vive, acusando-o de materialismo sórdido. O burguês justifica a não distribuição do capital para todos com o sofisma de que seria uma quantidade tão irrisória que a única coisa que faria seria tornar outros mais miseráveis. No entanto, deve-se perceber que a classe operária não luta para se manter viva, mas para conquistá-la em condições que sejam dignas; não se trata aqui de um complexo de inferioridade, mas, sim, de luta por justiça, por uma reivindicação moral. Simone, dentro deste contexto, faz uma consideração importante: “toda interpretação naturalista de uma atitude política está errada, pois a política começa apenas quando os homens passam a ser valores humanos gerais”. Com isto, Beauvoir diz que ao se colocar em um plano político, o sujeito abandona sua situação individual para transcender ao outro. Não que com isso ele perca sua individualidade, mas passa a ver no outro as possibilidades que se lhe oferecem (para melhores reflexões acerca do tema, ver Por uma moral da ambiguidade). Simone diz, então, que o nosso corpo é a expressão objetiva da nossa existência, é por meio dele que agimos e nos fazemos existir. Em virtude disso, diz não ser absurdo se arriscar para conquistar o que se necessita, não de forma gratuita, mas de modo adquirido, batalhado, onde minha existência se engajou. Ademais, quando se pensa a conquista, a revolução, não se restringe apenas ao seu momento, mas em um incessante movimento de confirmação do que o originou.

Por outro lado, o realista de esquerda, o revolucionário, procura “forças aptas a construir o futuro”. Denunciam os burgueses e afirmam a luta como necessária “para que o homem se realize como transcendência e como liberdade”. A crítica dirigida a ele é que ele pensa o fim como fixo, como separado do meio que é visto como mero instrumento, assim como já comentado. Aqui, a relação entre meio e fim é meramente mecânica. O realista, aqui, não tem escrúpulos em mentir, em caluniar, para atingir o fim desejado, ou antes, determinado. No entanto, ao agir deste modo ele abdica a qualquer confiança e respeito que, porventura, poderia ser dedicado a ele. Portanto, ele se reduz para tentar assegurar um caráter de eficácia, não percebendo que assim reduz a política a um “caráter incoerente e desolador”. Neste âmbito, eles tomam o disfarce de oportunista, ligando-se a inimigos para atingirem suas metas.

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