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domingo, 20 de maio de 2012

Documentário: Simone de Beauvoir: "No se nace mujer" (2007-Virginie Linhart)

Mais um achado da Internet. Um documentário com áudio em francês e legendas em espanhol sobre Simone de Beauvoir.
O documentário gira em torno da vida de Simone de Beauvoir e de sua obra "O Segundo Sexo".
Podemos ver sua filha adotiva dando depoimentos e autores famosos como Elizabeth Badinter.
No documentário também podemos ver como foi a ida de Simone de Beauvoir aos Estados Unidos e sua paixão por Nelson Algren.
Deliciem-se (link do Youtube):


sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Segundo Sexo, Capítulo 3 - O ponto de vista do materialismo histórico.

Simone de Beauvoir inicia o capítulo três da primeira parte intitulado “O ponto de vista do materialismo histórico” afirmando:

A teoria do materialismo histórico pôs em evidência muitas verdades importantes. A humanidade não é uma espécie animal: é uma realidade histórica. A sociedade humana é uma antiphisis: ela não sofre passivamente a presença da Natureza, ela a retoma em suas mãos. Essa retomada de posse não é uma operação interior e subjetiva; efetua-se objetivamente na práxis. (BEAUVOIR, 2009, p. 87)

            Sendo assim, portanto, a mulher um ser que também não pode ser reduzido a simples condição de “animalidade”, ou pela sua situação biológica. Ela, a mulher, “reflete uma situação que depende da estrutura econômica da sociedade, estrutura que traduz o grau de evolução técnica a que chegou a humanidade.” (Idem. Ibidem).
            Beauvoir, até aqui, dá razão a Friedrich Engels (1820 – 1895), e também quando este afirma que é a partir da descoberta do cobre que os homens compreendem como podem expandir-se em agricultura, e transformar a natureza. Porém, o repreende quando este tenta explicar que a diferenciação entre homem e mulher está unicamente dependente do avanço tecnológico. E diz mais:

O materialismo histórico [entenda-se aqui Engels em seu “A origem da Família”] considera certos e verdadeiros fatos que seria preciso explicar. Afirma, sem discuti-lo, o laço de interesse que prende o homem à propriedade: mas onde esse interesse, mola das instituições sociais, tem, ele próprio, sua origem? [grifo nosso] (Idem. p. 90)

            Ou seja, para a autora Engels procurou explicar tanto o interesse do homem pela propriedade privada quanto a diferenciação da condição do homem para a condição da mulher unicamente pelo viés do materialismo histórico, não podendo este abarcar o homem em sua totalidade, mas apenas em “essa abstração que se denomina homo oeconomicus”. (Idem. Ibidem). E afirma: “É claro, por exemplo, que a própria ideia de posse singular só tem sentido possível a partir da condição original do existente.” (Idem. Ibidem).
            A condição original do existente, entendemos como a “falta constitutiva do ser” e o movimento de transcendência. É porque originalmente o homem deseja algo, anseia por algo, que procura transcender, ou melhor dizendo, superar uma determinada situação-limite. Beauvoir (2009, p. 92) entende o homem como “transcendência e ambição que projeta novas exigências através de toda nova ferramenta”. E é por isso que a partir da descoberta do cobre pode e quis “arrotear e cultivar vastos campos”, porém não foi do cobre que “jorrou essa vontade”, e sim do próprio homem. (Idem. Ibidem).
            Quando a propaganda socialista da antiga URSS afirmava que homens e mulheres eram iguais e livres porque eram considerados unicamente trabalhadores com as mesmas possibilidades, o que foi possível com a chegada das máquinas modernas, Beauvoir entende que não se pode afirmar isso sem má-fé.
            Em resumo, a autora pretende que entendamos que nem o ponto de vista puramente biológico, nem o sociológico ou materialista, ou econômico, nem o ponto de vista psicanalítico podem compreender o homem em sua totalidade e inteireza, procuram negar, ou escamotear outras partes também significantes da vida do homem e “há uma infraestrutura existencial que permite, somente ela, compreender em sua unidade essa forma singular que é uma vida.” (Idem. p. 94). Tanto no freudismo quanto no marxismo existem elementos positivos para essa compreensão total do homem, porém não chegam em sua totalidade. É preciso primeiro entender o valor que o próprio homem dá em seu projeto fundamental. E mais, é preciso entender que o homem é projeto fundamental de existência “transcendendo-se para o ser”, ou seja, é todas as suas instâncias em um só instante.

PS: Este resumo foi feito a partir de:
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. tradução de Sérgio Milliet. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. 2v. pp. 935

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Capítulo 2: O ponto de vista psicanalítico ( Parte 2 de 2)

* Este resumo foi escrito de uma única vez, mas pelo tamanho, achei melhor dividí-lo em duas partes para não ficar cansativo. A edição utilizada para este resumo é a 7ª edição do livro, da editora Nova Fronteira, 1980. Ou seja, a paginação se refere a esta edição e a todo o capítulo.

Capítulo 2: O ponto de vista psicanalítico ( parte 2 de 2)
Páginas 59 - 72
Continuação do resumo anterior, para ler a outra parte Clique AQUI


Sem dúvida nenhuma, Freud acredita que a mulher sente-se mutilada por não ter um pênis e lamenta não ser equiparada ao homem. Essa “falta” pode ser meramente de uma confrontação anatômica; muitas meninas só descobrem essa diferença anatômica bem depois dos 5 anos e a faz de vista. O menino tem em seu pênis uma experiência vivida, orgulha-se dele, mas isso não fornece a base para afirmar que a menina sente-se humilhada por não ter um. A noção do complexo de Electra é vaga, pois não há como afirmar que ao ser beijada pelo pai a menina sinta uma estimulação genital, pois o prazer clitoridiano é isolado, sendo apenas na puberdade que será desenvolvido as zonas erógenas.

O fato de o desejo feminino voltar-se para um ser soberano dá-lhe um caráter original, mas a menina não é constitutiva de seu objeto, ela o sofre. BEAUVOIR, p. 63

O complexo de Electra tem então apenas um caráter afetivo e difuso, mas Freud não fornece os meios para se discutir a afetividade e nem a soberania do pai. De onde veio essa soberania? Ele atenta para a importância desta, mas não saberia explicar de onde ela vem; isso seria um progresso onde as causas são ignoradas. É por essa insuficiência do sistema freudiano que Adler rompe com Freud. Segundo Adler o homem vive três dramas
  1.  Vontade de poder
  2. Inferioridade de obter o poder
  3. Subterfúgios de evitar a realidade que receia não poder vencer
Há então uma distancia entre o sujeito e o meio que teme e o provoca neuroses. Na mulher a inferioridade vem sob a forma da vergonha de recusar a feminilidade, o falo masculino é desejado, não como órgão viril, mas como simbolismo ao que sua posse representa, ele seria símbolo do privilégio concedido ao homem. A reação da mulher seria se masculinizar-se ou lutar por meio das armas femininas, por exemplo, na maternidade ela enxergaria no filho o substituto para o pênis e se aceitaria como mulher, assim como sua inferioridade.

Beauvoir não pretende insistir nas diferenças entre Freud e Adler e nem uma reconciliação dos pensamentos deles, mas expor que ambas as explicações são insuficientes.

É o postulado comum a todos os psicanalistas. A história humana explica-se, segundo eles, por um jogo de elementos determinados. Todos atribuem à mulher o mesmo destino. BEAUVOIR, p. 64.

“Viruloides” ou “femininas”; querendo se identificar com o pai; sentimento de inferioridade; um querer-se ser homem... Com um marido solucionaria o amor que antes fora devotado ao pai; buscando um amante ou um amor sexual quer-se ser dominada e somente na maternidade teria sua autonomia... a mesma determinação da insatisfação feminina por não ser homem e de suas escolhas sendo fugas de sua inferioridade.

Não é complicado para os psicanalistas confirmar suas teorias, há até mesmo um esforço para abrandar as teorias freudianas por meios de relativismos, conciliando vários aspectos como num mosaico, acontece que a vida psíquica não é um agrupamento, ela existe em cada momento. Há uma recusa entre os psicanalistas em aceitar o poder que o indivíduo possui com a escolha e é justamente essa recusa, seu maior ponto fraco, pois os impulsos e proibições vêm da escolha-recusa existencial. Freud tenta substituir a noção de valor com a de autoridade, mas essa substituição não possui ferramentas que a explique.

Na sexualidade se empenha valores e eles não devem ser menosprezados, pois a sexualidade desempenha um grande papel na vida humana. Corpo e sexualidade, segundo Beauvoir, “são expressões concretas da existência, e também a partir desta que se pode descobrir-lhes as significações: sem essa perspectiva, a psicanálise toma, por verdadeiros, fatos inexplicáveis.”pag. 66.

O humano pretende alcançar sua existência pelo mundo de todas as formas possíveis. A virgindade, por exemplo, torna-se preciosa pelo amor do homem à integridade que por ela é simbolizada. O que o humano faz, define seu ser no mundo e é de um ponto de vista ontológico que a unidade da escolha é restituída. Pelo nome de um “inconsciente coletivo” a escolha é violentamente descartada, pois haveria imagens e símbolos universais, acontece que tais símbolos não caíram magicamente do céu, foi elaborado por uma realidade humana.

Angustia ser livre. E para fugir de si mesmo, o sujeito, volta-se para as coisas, sejam elas seu pênis, maná, totem, etc. O duplo para o menino é seu pênis, para a menina sua boneca e mais tardiamente seu filho.

Mas uma vida é uma relação com o mundo; é escolhendo-se através do mundo que o indivíduo se define; é para o mundo que nos devemos voltar a fim de responder às questões que nos preocupam. BEAUVOIR, p. 69.

Como explicaria a psicanálise o fato da mulher se o  Outro? Não explica. O que está sendo recusado aqui é o método psicanalítico, pois a sexualidade não é um dado, a libido feminina só foi estudada a partir da masculina e nunca a partir da subjetividade da mulher e sua passividade não é algo a priori. A mulher encontra-se num mundo de valores e suas condutas são livres, ela escolhe sua transcendência e igualmente como se deixa ser objeto; projeta-se diante de um passado que não é seu, num presente que se faz em rumo a um futuro que ainda não lhe pertence. A mulher é tão ser humano quanto o homem e numa tentativa de a definir, faz-se necessário conhecer o mundo de valores que ela se encontra, sua estrutura econômica e social, sob uma perspectiva existencial.

Capítulo 2: O ponto de vista psicanalítico (Parte 1 de 2)

* Este resumo foi escrito de uma única vez, mas pelo tamanho, achei melhor dividí-lo em duas partes para não ficar cansativo. A edição utilizada para este resumo é a 7ª edição do livro, da editora Nova Fronteira, 1980. Ou seja, a paginação se refere a esta edição e a todo o capítulo.

Capítulo 2: O ponto de vista psicanalítico 
Páginas 59 - 72

Como foi pretendido mostrar no capítulo anterior, embora a Biologia forneça dados que não podem ser esquecidos ou desprezados, tais dados não possuem uma situação vivida. Um órgão importante como o ovário, não a define, enquanto o clitóris, um órgão sem grande importância, passa a ser considerado mais importante para a situação vivida, do que qualquer dado biológico poderia supor. 

Neste capítulo, Simone de Beauvoir vai criticar a interpretação psicanalítica da mulher.

A psicanálise tem algo a seu favor quando introduziu na psicofisiologia que o sentido humano reveste qualquer fato na vida psíquica do indivíduo. O ser humano é mais do que um simples corpo-objeto, ele é um corpo ativamente vivido pelo sujeito; o que dar-nos a abertura de falar que a mulher é mulher tanto quanto sente-se mulher. Da natureza sendo retomada pela atividade da mulher, que se define, foi edificado todo um sistema.

O que é preterido aqui não é critica a psicanálise, mas meramente examinar o que ela trouxe de novidade ao objeto de estudo do livro que é justamente a mulher.

Não é empresa fácil discutir a psicanálise. Como todas as religiões – cristianismo, marxismo – ela se revela, sobre um fundo de conceitos rígidos, de uma elasticidade embaraçante. BEAUVOIR, p. 59.

Por exemplo, o falo masculino, ora é considerado ao pé da letra, ora é considerado simbolicamente. A mesma elasticidade é aplicada na hora em que é realizada alguma crítica, pois quando a letra da doutrina é atacada, falam que não é compreendido o espírito da mesma; quando se aprova o espírito falam que é preciso levar em conta a letra. Onde estaria a verdadeira psicanálise? Mais de um psicanalista fala que o problema da psicanálise são os psicanalistas. Como Sartre e Merleau-Ponty afirmam “A sexualidade é coexistência à existência”. É possível uma conciliação entre sexualidade e existência, mas o que acontece é uma conversa mole da passagem da sexualidade para existência e nada mais. A noção de sexualidade fica vaga quando se limita a uma distinção do “sexual” e “genital”. Dalbiez diz “O sexual em Freud é a aptidão intrínseca para animar o genital.” Aptidão é possibilidade que por sua vez é fornecida pela realidade. Freud não justifica filosoficamente seu sistema, porem uma vez que nas afirmações de Freud há postulados metafísicos e utilizando dessa linguagem é da linguagem filosófica que ele utiliza-se. Confusões essas da psicanálise é que, ao mesmo tempo, complica uma crítica, a exige.

Freud não se preocupou com o destino da mulher, apenas procurou a estudar a partir do destino do homem. Antes de Freud, um sexologista de nome Marañon afirmava que a libido e o orgasmo seria uma força viril, o que em outras palavras significa que a mulher que alcança seu orgasmo seria “viriloide”. Pelo menos neste ponto, Freud é mais ameno, pois este admite que a sexualidade feminina seja tão desenvolvida quanto a masculina, contudo, a libido é de uma força de essência e constante masculina. A diferenciação da sexualidade só se daria na fase genital.

Freud pôs em foco um fato cuja importância, antes dele, não se havia ainda reconhecido totalmente: o erotismo masculino localiza-se definitivamente no pênis, ao passo que há, na mulher, dois sistemas eróticos distintos: um clitoridiano, que se desenvolve no estágio infantil e outro, vaginal, que surge após a puberdade. BEAUVOIR, p. 61.

O jovem tem o desenvolvimento de sua sexualidade na fase genital, ele então passará da fase auto-erótica para a fase que erotizará, geralmente, a mulher; seu pênis é seu órgão privilegiado. O parecido com a mulher, porém quando deixa a fase auto-erótica, será preciso que passe da fase clitoridiana para a vaginal, mas nem sempre isso ocorre, o que a deixará num estágio infantil e desenvolverá neuroses.

No estágio infantil, a criança fixa-se a um objeto. O menino na mãe, querendo uma identificação com o pai do mesmo modo que o teme, seja por medo de uma punição ou por medo de uma mutilação; então cria-se em relação a ele sentimentos agressivos do mesmo modo que aceita sua autoridade. Do “complexo de Édipo” ao “Complexo da castração”, com o superego censurando as tendências incestuosas e no momento em que o complexo desaparece, fica no indivíduo regras morais.

Do mesmo modo, Freud descreve a menina, que no estágio infantil sente-se atraída pelo pai (Complexo de Electra), mas quando a menina descobre a diferença anatômica dos gêneros (aproximadamente aos 5 anos) ela reage a falta do pênis com um, também, complexo de castração. Ela gostaria de assemelhar-se ao pai, cria um sentimento de hostilidade e rivalidade em relação a mãe. Entretanto, diferentemente do superego masculino, o feminino é frágil, o complexo de Electra é menos nítido e se a menina tiver irmãos, reagirá a falta do pênis recusando sua feminilidade e cobiçando um para ser semelhante ao pai, ficará no estágio clitoridiano, sendo frígida ou assumindo um comportamento lésbico.

Continua AQUI.

Resumo: O Segundo Sexo ( em andamento)

 Como este livro é extenso, a demora e a quantidade de posts com o resumo desta obra será bem superior em comparação com as duas obras que aqui foram postadas. Então para facilitar a procura e até mesmo para organizar melhor o resumo de O Segundo Sexo, aqui ficará os links dos resumos realizados da já citada obra.

O estudo da obra, como podem perceber ainda se encontra em andamento e uma previsão para término não temos, então se você está acompanhando os resumos, com este link você verá os links dos resumos de uma maneira mais organizada do que pelo aquivo do blogger.

Livro: O Segundo Sexo
Autora: Simone de Beauvoir


Introdução

Primeira Parte: Destino
Capítulo 1: Os dados da Biologia

Capítulo 2 : O ponto de Vista Psicanalítico
Parte 2

Capítulo 3 : O ponto de vista do materialismo histórico
Em breve...