O Segundo Sexo
Capítulo 1 - Os dados da Biologia ( Parte 4)
Páginas 53 - 57
Durante muito tempo a resposta para a pergunta sobre qual dos dois gêneros é o mais importante na espécie foi fundamentada na fisiologia, ao passo que por vezes recorreu-se à descrições estáticas, muito embora a humanidade possa ser tomada como um sinônimo para vir-a-ser. Outros tantos procuram promover comparações matemáticas entre homens e mulheres, definindo suas capacidades funcionais; chegou-se até a medir o peso do encéfalo de ambos, ondeo encefálo feminino saiu em vantagem por ser relativamente mais leve. Entretanto, relacionando-se o peso do encéfalo com o peso do corpo de cada indíviduo, chega-se a uma igualdade. Muito embora, muitos estudiosos as tenha utilizado essas discussões se tornam desisteressantes por não haver nenhuma relação do peso do encéfalo com a inteligência de uma pessoa.
Segundo Beauvoir, todas as tentativas de comparar machos e fêmeas enquanto espécie humana se tratam de puro devaneio, uma vez que é somente numa perspectiva humanista que essa comparação pode ocorrer. No entanto, o homem é , segundo a corrente existencialista, aquilo que ele se faz ser, ao passo que a mulher é um vir-a-ser, e é nesse vir-a-ser que suas possibilidades deveriam ser definidas.
Nos parágrafos que seguem, Beauvoir passará a questão biológica da mulher; ela inicia dizendo que a mulher é mais fraca que o homem fisicamente falando, assim como é mais instável e mais frágil. Mas é certo que, a perspectiva da inferioridade muscular só é conveniente aos homens, e quando a força não se torna necessária as diferenças caem por terra. Sua natureza só se torna real para ele a partir do momento que retorna a sua ação. Diferentemente dos animais, a mulher tem sua maternidade definida pela sociedade na qual está inserida, logo, as "possibilidades" individuais da mulher dependem da sua situação econômico-social. Entretanto, mesmo perdendo superioridade na espécie, a fêmea reconquista uma dada autonomia no momento de sua maternindade.
Podemos perceber que a seguinte pergunta norteia todos os argumentos da obra: No seio dessas sociedades que é mais necessário à espécie, o macho ou a fêmea? No âmbito do coito e da gestação, macho e fêmea se diferenciam porque um cria para manter, enquanto o outro mantém para criar. Ambos assim são necessários porque mesmo quando a mãe deixa de amamentar seus filhos, o pai surge como figura importante na sobrevivência destes. É, portanto, submetidos à leis e regra que o sujeito passa a ter consciência de si mesmo e se realiza; desse modo, não é a fisiologia ou a biologia que cria valores. Assim, a superioridade muscular do homem, na teoria, não é sinônimo de poder, posto que o respeito que inspira a mulher impede o emprego da violência.
É sob o foco de contextos ontológicos, econônicos, sociais e psicológicos que Beauvoir procura estabelecer a sujeição da mulher à espécie, bem como a sujeição de seu corpo como elemento responsável por estabelecer sua posição neste mundo. É preciso, portanto, analisar de que maneira a natureza da mulher foi revista no transcorrer da história.