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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Capítulo 2: O ponto de vista psicanalítico (Parte 1 de 2)

* Este resumo foi escrito de uma única vez, mas pelo tamanho, achei melhor dividí-lo em duas partes para não ficar cansativo. A edição utilizada para este resumo é a 7ª edição do livro, da editora Nova Fronteira, 1980. Ou seja, a paginação se refere a esta edição e a todo o capítulo.

Capítulo 2: O ponto de vista psicanalítico 
Páginas 59 - 72

Como foi pretendido mostrar no capítulo anterior, embora a Biologia forneça dados que não podem ser esquecidos ou desprezados, tais dados não possuem uma situação vivida. Um órgão importante como o ovário, não a define, enquanto o clitóris, um órgão sem grande importância, passa a ser considerado mais importante para a situação vivida, do que qualquer dado biológico poderia supor. 

Neste capítulo, Simone de Beauvoir vai criticar a interpretação psicanalítica da mulher.

A psicanálise tem algo a seu favor quando introduziu na psicofisiologia que o sentido humano reveste qualquer fato na vida psíquica do indivíduo. O ser humano é mais do que um simples corpo-objeto, ele é um corpo ativamente vivido pelo sujeito; o que dar-nos a abertura de falar que a mulher é mulher tanto quanto sente-se mulher. Da natureza sendo retomada pela atividade da mulher, que se define, foi edificado todo um sistema.

O que é preterido aqui não é critica a psicanálise, mas meramente examinar o que ela trouxe de novidade ao objeto de estudo do livro que é justamente a mulher.

Não é empresa fácil discutir a psicanálise. Como todas as religiões – cristianismo, marxismo – ela se revela, sobre um fundo de conceitos rígidos, de uma elasticidade embaraçante. BEAUVOIR, p. 59.

Por exemplo, o falo masculino, ora é considerado ao pé da letra, ora é considerado simbolicamente. A mesma elasticidade é aplicada na hora em que é realizada alguma crítica, pois quando a letra da doutrina é atacada, falam que não é compreendido o espírito da mesma; quando se aprova o espírito falam que é preciso levar em conta a letra. Onde estaria a verdadeira psicanálise? Mais de um psicanalista fala que o problema da psicanálise são os psicanalistas. Como Sartre e Merleau-Ponty afirmam “A sexualidade é coexistência à existência”. É possível uma conciliação entre sexualidade e existência, mas o que acontece é uma conversa mole da passagem da sexualidade para existência e nada mais. A noção de sexualidade fica vaga quando se limita a uma distinção do “sexual” e “genital”. Dalbiez diz “O sexual em Freud é a aptidão intrínseca para animar o genital.” Aptidão é possibilidade que por sua vez é fornecida pela realidade. Freud não justifica filosoficamente seu sistema, porem uma vez que nas afirmações de Freud há postulados metafísicos e utilizando dessa linguagem é da linguagem filosófica que ele utiliza-se. Confusões essas da psicanálise é que, ao mesmo tempo, complica uma crítica, a exige.

Freud não se preocupou com o destino da mulher, apenas procurou a estudar a partir do destino do homem. Antes de Freud, um sexologista de nome Marañon afirmava que a libido e o orgasmo seria uma força viril, o que em outras palavras significa que a mulher que alcança seu orgasmo seria “viriloide”. Pelo menos neste ponto, Freud é mais ameno, pois este admite que a sexualidade feminina seja tão desenvolvida quanto a masculina, contudo, a libido é de uma força de essência e constante masculina. A diferenciação da sexualidade só se daria na fase genital.

Freud pôs em foco um fato cuja importância, antes dele, não se havia ainda reconhecido totalmente: o erotismo masculino localiza-se definitivamente no pênis, ao passo que há, na mulher, dois sistemas eróticos distintos: um clitoridiano, que se desenvolve no estágio infantil e outro, vaginal, que surge após a puberdade. BEAUVOIR, p. 61.

O jovem tem o desenvolvimento de sua sexualidade na fase genital, ele então passará da fase auto-erótica para a fase que erotizará, geralmente, a mulher; seu pênis é seu órgão privilegiado. O parecido com a mulher, porém quando deixa a fase auto-erótica, será preciso que passe da fase clitoridiana para a vaginal, mas nem sempre isso ocorre, o que a deixará num estágio infantil e desenvolverá neuroses.

No estágio infantil, a criança fixa-se a um objeto. O menino na mãe, querendo uma identificação com o pai do mesmo modo que o teme, seja por medo de uma punição ou por medo de uma mutilação; então cria-se em relação a ele sentimentos agressivos do mesmo modo que aceita sua autoridade. Do “complexo de Édipo” ao “Complexo da castração”, com o superego censurando as tendências incestuosas e no momento em que o complexo desaparece, fica no indivíduo regras morais.

Do mesmo modo, Freud descreve a menina, que no estágio infantil sente-se atraída pelo pai (Complexo de Electra), mas quando a menina descobre a diferença anatômica dos gêneros (aproximadamente aos 5 anos) ela reage a falta do pênis com um, também, complexo de castração. Ela gostaria de assemelhar-se ao pai, cria um sentimento de hostilidade e rivalidade em relação a mãe. Entretanto, diferentemente do superego masculino, o feminino é frágil, o complexo de Electra é menos nítido e se a menina tiver irmãos, reagirá a falta do pênis recusando sua feminilidade e cobiçando um para ser semelhante ao pai, ficará no estágio clitoridiano, sendo frígida ou assumindo um comportamento lésbico.

Continua AQUI.

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