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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Segundo Sexo. vol. 1.

Introdução (Parte 1)

Simone de Beauvoir afirma que "agora", em 1949, "não sabemos mais exatamente se ainda existem mulheres", e mais: "se existirão sempre, se devemos ou não desejar que existam, que lugar ocupam ou deveriam ocupar no mundo". E que ser do sexo feminino não significa necessariamente ser mulher. (BEAUVOIR, 2009, p.13)¹.

A autora afirma que em seu tempo a diferença entre duas categorias que se vestem diferente, tem corpos diferentes, interesses e ocupações diferentes, é uma "evidência total". (Ibidem. p.15). Porém, ela escreve:

"Se a função de fêmea não basta para definir a mulher, se nos recusamos também a explicá-la pelo 'eterno feminino' e se, no entanto, admitimos, ainda que provisoriamente, que há mulheres na Terra, teremos que formular a pergunta: o que é uma mulher?" (Ibidem. Ibid.).


Simone de Beauvoir também afirma que desde as mitologias antigas já se concebia o pensamento de dualidades como o Mesmo e o Outro. Afirmando ser a alteridade uma categoria fundamental do pensamento humano. Sendo assim, nada, ninguém, nenhuma coletividade se afirma sem colocar o Outro diante de si. Porém, admite-se uma reciprocidade, "não é o Outro que se definindo como Outro define o Um; ele é posto como Outro pelo Um definindo-se como Um." (Ibidem, p. 18). Ou seja, o que a autora está querendo afirmar é que se o Um afirma-se como o Um e o Outro transforma-se em Outro de forma a prespectivar sua pre-definição como tal é previsto que se tenha sujeitado a tal situação. Então, de onde viria a submissão da mulher?

As mulheres estão fragmentadas nas classes existentes, uma mulher burguesa serve à burguesia, uma mulher negra à comunidade negra, não possuindo uma identidade comum entre elas, assim como os negros nos EUA e os judeus. Podendo assim ser este um dos motivos de sua submissão. Esta afirmação ainda não se elucida neste ponto, mas encerraremos por aqui nossa discussão de hoje.

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¹ A referência aqui usada é: BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Tradução Sérgio Milliet. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

Livro de estudo: O Segundo Sexo

Este post tem como intenção expor um pouco sobre o livro que o grupo Liberdade e Ambiguidade: Compreendendo Beauvoir passa a estudar.

Por muito tempo, o grupo de estudos manteve-se focado nos escritos iniciais da autora como: O Existencialismo e a sabedoria das nações (lançado em 1948, mas com quatro artigos escritos para a revista Les Temps Moderns na década de 40, do qual para ver o resumo realizado pelo grupo, basta clicar AQUI); Por uma Moral da Ambiguidade (1947) e Pirro e Cinéias (1944) sendo este o primeiro ensaio filosófico de Beauvoir e pode ser encontrado na edição de Por Uma Moral da Ambiguidade (Destes dois últimos não há resumos no blog, mas serviu como base para alguns artigos e comunicações de membros em eventos de filosofia); E o último a ser estudado foi O Pensamento de Direita, Hoje (para ver o resumo realizado pelo grupo deste livro basta clicar AQUI).

Quando se menciona o nome de Simone de Beauvoir ou se pergunta acerca de um livro dela, normalmente o que se vem a mente é o nome de um certo livro que foi publicado em 1949: O Segundo Sexo. E é justamente o livro mais famoso de sua autoria que o grupo passa a estudar a partir desta data. Um livro que analisa a mulher como um tema filosófico, que causou muita polêmica na época. O que ocasionou reações muito hostis contra o livro e a própria Beauvoir.

Quando questionada acerca disso e de quem partia essas manifestações hostis, Simone de Beauvoir diz numa entrevista de 1976, concedida para Alice Schwarzer, que pode ser encontrada no livro de 1983 :Simone de Beauvoir hoje:
" De todos. Talvez tivéssemos cometido um engano publicando antes da saída do livro, o capítulo sobre a sexualidade em Les Temps Modernes. Ele desencandeou a tempestade. Foi de uma grosseria... Mauriac, por exemplo, escreveu a um amigo que na época, trabalhava conosco em Les Temps Modernes: "Ah, acabo de aprender muito sobre a vagina de sua patroa..."
E Camus, que naquele tempo ainda era amigo, me disse: "Você ridicularizou o homem francês." Professores atiraram o livro através da sala, de tal modo sua leitura lhes foi insuportável.
E quando eu ia ao restaurante, à Coupole, por exemplo, vestida da forma mais feminina, como é meu costume, as pessoas me olhavam e diziam: "Ah, muito bem, é ela... eu pensava que... Então é ela que transa nas duas áreas." Porque, naquela época, eu tinha reputação de lésbica. Uma mulher que ousara escrever aquelas coisas, não podia ser "normal".
Os comunistas também me reduziram a pedaços. Trataram-me de "pequeno-burguesa" e me explicaram: "Compreenda, as operárias de Billancourt estão se lixando para todas as coisas que a senhora lhes diz." O que é interamente falso. Eu não tinha do meu lado nem a esquerda nem a direita."

Por essa resposta, pode-se se ter uma idéia da polêmica que o livro levanta. A situação da mulher em sempre estar abaixo do homem, não é algo a priori, não é dada por nenhum fator histórico ou biológico.

O Segundo Sexo é divido em duas partes. A primeira chama-se: Fatos e Mitos e a segunda: A Experiência Vivida. Em que há uma analíse da figura da mulher, na biologia, história, os mitos acerca da mulher, a formação, situação, justificações e um caminho para ela se libertar.

Como é possível supor, o livro possui várias edições. As que estão sendo utilizadas pelo grupo é a da editora Nova Fronteira e Círculo do livro. E uma edição em francês para comparações de traduções. Abaixo algumas fotos dos livros:

Este aqui é a edição mais nova pela Nova Fronteira, sendo lançada ano passado em comemoração aos 60 anos de lançamento do livro.

Esta abaixo é pela editora Círculo do Livro.
E estas aqui são de 1980, pela Nova Fronteira, a mesma que lançou a livro em comemoração ano passado do qual a fotto foi a primeira mostrada.




















Como foi dito no início, este post é apenas para informar um pouco sobre a nova obra a ser estudada pelo grupo, e para que tenham um pouco da idéia dos resumos que irão a ser postados aqui.

O que se pretende é que com o avançar dos estudos os resumos irão ser postados quizenalmente, assim como as reauniões.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O Pensamento de Direita, Hoje. - Capítulo 10 (Parte 2)

A Vida dos Eleitos

Simone de Beauvoir declara que os mitos burgueses envelheceram um pouco, e que "as velhas hierarquias estremecem, a ordem do mundo está incerta, a honra desfalece". Sendo assim, o burguês, o homem de direita, o "Eleito", volta-se a um solipsismo, vendo que suas instituições sucumbem.

"Cética, e não mais bem-pensante, a literatura de direita se fecha, pois, no subjetivismo." Veem o amor não como uma união, uma comunicação, e sim como uma solidão. O amante está encerrado em seus delírios, pensa o burguês que o amor só concerne a si próprio. Este sistema se estende a todas as relações humanas. "A única preocupação do Eleito será pois o culto do seu 'eu'". Ele quer cultivar as suas diferenças, é isso que faz dele privilegiado, ele quer se sentir superior. "(...) trata-se de não se assemelhar aos outros." Pretende ele, segundo Beauvoir, levar uma vida sem conteúdo.

Porém é impossível viver na pura interioridade, segundo a autora, de certa forma essa interioridade se externará, pois não pode ficar no vazio, precisa preencher-se de objetividade. E é na literatura que muitos buscam a saída. Em uma literatura que se pretende "não comprometida". "Eles querem uma literatura que se mantenha fora do mundo, que os ajude a dissimular, a negar, ou pelo menos a fugir da realidade." E mais: "uma vida sem conteúdo exige evidentemente livros sem conteúdo."

Beauvoir neste ponto deste capítulo assemelha-se a Beauvoir de "Por uma moral da ambiguidade", quando critica a impossibilidade de manter-se em um patamar de "escrever descomprometidamente". Também quando afirma: "Em suma, eles não conseguem levar até o fim o seu solipsismo, nem escrever um livro sem conteúdo."

A autora ainda acrescenta à sua crítica o fato de o escritor burguês só levar em conta a vida interior. "Fora dela, só procura evadir-se: ou no passado, ou através do espaço, ou no irreal." Eles tratam de nos fazer esquecer deste mundo e de nós mesmos.

A burguesia também evoca um "naturalismo", pretendendo encerrar o homem em explicações baseadas na natureza. Pretendendo também justificar sua posição privilegiada. Porém a autora nega a validade dessa concepção.

E assim Beauvoir encerra neste último capítulo sua crítica ao pensamento de direita do seu tempo, onde podemos ver conexões com pensamentos de outros livros seus como: "Por uma moral da ambiguidade" e também o "O sangue dos outros", no que concernem a seu pensamento ético-político.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Pensamento de direita hoje - Capítulo 10 (Parte 1)

A Vida dos Eleitos

"Os eleitos excluíram do seu universo espiritual o resto da humanidade; ei-los entre si: que maravilha irão fazer de si mesmos?" Segundo a citação, uma vez que os membros da burguesia optaram por ignorar a existência da humanidade, Beauvoir nos propõem que analisemos de que maneira se comportam entre si. Sendo assim, a existência dos membros ativos da burguesia não se encontra na ação, antes sim em fins empíricos voltados para seus próprios interesses. A luta destes se apresenta muito mais negativa do que conquistadora, desta maneira a moral burguesa se encaminha para um comodismo que é justificado pelo pensador burguês através do catastrofismo histórico, que nada mais é do que o Apocalipse.

Muito embora a História esteja condenada por esse pessimismo, esses mesmos pensadores, a partir de uma visão otimista, afirmam que o universo é bom. Em suma, usa-se esse argumento como forma de ignorar o que se encontra ao redor dele: a pobreza de muitos. Se ignorar se tornou inviável, resta ainda suportar como afirma Montherlant: "Com que espírito podemos suportar - nós, os felizes - a miséria do mundo? Assim como suportamos que seja noite em New York à hora em que há sol em Paris.". Essa dialética de que a pobreza do homem representa a sua maior riqueza permite que a direita detenha a História, fazendo com que o escravo acredite que já é senhor e por esse motivo não necessita se tornar aquilo que "já é".

Como nos fala Pingaud: "O consentimento é o contrário da conquista." e o homem que consente não se define por sua ação por que este não faz nada, não luta por nada; e com isso o homem limita-se apenas a constatar a História sem dela fazer parte. E com isso a dita sabedoria burguesa propõe que a única opção existente é aceitar as coisas sem lutar, sem questionar. Assim, para os intelectuais burgueses o indivíduo é algo distinto de seus atos, estando sua verdade contida em outra coisa.

O homem de elite, acreditam ele, é nobre por uma graça inata, portanto, quando busca algum fim é unicamente com intuitos egoístas: ações aparentemente desinteressadas escondem pretensões egoístas. Dessas pretensões podemos destacar a figura do chefe carismático, que comanda suas tropas, mas que triunfa pela ascendência da sua personalidade não por demagogia.

Declara Thierry Maulnier: "O direito de errar é o direito fundamental do ser humano, e envolve todos os outros.". Todo aquele que acredita na importância dos seus fins, tem o fracasso como uma desgraça, tendo como possibilidade de salvação apenas uma reparação objetiva. A verdade é que o direito de errar não se encontra contido neste mundo empírico, mas num plano subjetivo. Entretanto, esses erros representam faltas políticas que custaram vidas humanas.

Esse subjetivismo burguês permite que o homem de elite não necessite prestar contas a ninguém e a falta de ação exige dele uma certa conduta: "Que lei seguirá essa conduta?".