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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Capítulo 2: O ponto de vista psicanalítico ( Parte 2 de 2)

* Este resumo foi escrito de uma única vez, mas pelo tamanho, achei melhor dividí-lo em duas partes para não ficar cansativo. A edição utilizada para este resumo é a 7ª edição do livro, da editora Nova Fronteira, 1980. Ou seja, a paginação se refere a esta edição e a todo o capítulo.

Capítulo 2: O ponto de vista psicanalítico ( parte 2 de 2)
Páginas 59 - 72
Continuação do resumo anterior, para ler a outra parte Clique AQUI


Sem dúvida nenhuma, Freud acredita que a mulher sente-se mutilada por não ter um pênis e lamenta não ser equiparada ao homem. Essa “falta” pode ser meramente de uma confrontação anatômica; muitas meninas só descobrem essa diferença anatômica bem depois dos 5 anos e a faz de vista. O menino tem em seu pênis uma experiência vivida, orgulha-se dele, mas isso não fornece a base para afirmar que a menina sente-se humilhada por não ter um. A noção do complexo de Electra é vaga, pois não há como afirmar que ao ser beijada pelo pai a menina sinta uma estimulação genital, pois o prazer clitoridiano é isolado, sendo apenas na puberdade que será desenvolvido as zonas erógenas.

O fato de o desejo feminino voltar-se para um ser soberano dá-lhe um caráter original, mas a menina não é constitutiva de seu objeto, ela o sofre. BEAUVOIR, p. 63

O complexo de Electra tem então apenas um caráter afetivo e difuso, mas Freud não fornece os meios para se discutir a afetividade e nem a soberania do pai. De onde veio essa soberania? Ele atenta para a importância desta, mas não saberia explicar de onde ela vem; isso seria um progresso onde as causas são ignoradas. É por essa insuficiência do sistema freudiano que Adler rompe com Freud. Segundo Adler o homem vive três dramas
  1.  Vontade de poder
  2. Inferioridade de obter o poder
  3. Subterfúgios de evitar a realidade que receia não poder vencer
Há então uma distancia entre o sujeito e o meio que teme e o provoca neuroses. Na mulher a inferioridade vem sob a forma da vergonha de recusar a feminilidade, o falo masculino é desejado, não como órgão viril, mas como simbolismo ao que sua posse representa, ele seria símbolo do privilégio concedido ao homem. A reação da mulher seria se masculinizar-se ou lutar por meio das armas femininas, por exemplo, na maternidade ela enxergaria no filho o substituto para o pênis e se aceitaria como mulher, assim como sua inferioridade.

Beauvoir não pretende insistir nas diferenças entre Freud e Adler e nem uma reconciliação dos pensamentos deles, mas expor que ambas as explicações são insuficientes.

É o postulado comum a todos os psicanalistas. A história humana explica-se, segundo eles, por um jogo de elementos determinados. Todos atribuem à mulher o mesmo destino. BEAUVOIR, p. 64.

“Viruloides” ou “femininas”; querendo se identificar com o pai; sentimento de inferioridade; um querer-se ser homem... Com um marido solucionaria o amor que antes fora devotado ao pai; buscando um amante ou um amor sexual quer-se ser dominada e somente na maternidade teria sua autonomia... a mesma determinação da insatisfação feminina por não ser homem e de suas escolhas sendo fugas de sua inferioridade.

Não é complicado para os psicanalistas confirmar suas teorias, há até mesmo um esforço para abrandar as teorias freudianas por meios de relativismos, conciliando vários aspectos como num mosaico, acontece que a vida psíquica não é um agrupamento, ela existe em cada momento. Há uma recusa entre os psicanalistas em aceitar o poder que o indivíduo possui com a escolha e é justamente essa recusa, seu maior ponto fraco, pois os impulsos e proibições vêm da escolha-recusa existencial. Freud tenta substituir a noção de valor com a de autoridade, mas essa substituição não possui ferramentas que a explique.

Na sexualidade se empenha valores e eles não devem ser menosprezados, pois a sexualidade desempenha um grande papel na vida humana. Corpo e sexualidade, segundo Beauvoir, “são expressões concretas da existência, e também a partir desta que se pode descobrir-lhes as significações: sem essa perspectiva, a psicanálise toma, por verdadeiros, fatos inexplicáveis.”pag. 66.

O humano pretende alcançar sua existência pelo mundo de todas as formas possíveis. A virgindade, por exemplo, torna-se preciosa pelo amor do homem à integridade que por ela é simbolizada. O que o humano faz, define seu ser no mundo e é de um ponto de vista ontológico que a unidade da escolha é restituída. Pelo nome de um “inconsciente coletivo” a escolha é violentamente descartada, pois haveria imagens e símbolos universais, acontece que tais símbolos não caíram magicamente do céu, foi elaborado por uma realidade humana.

Angustia ser livre. E para fugir de si mesmo, o sujeito, volta-se para as coisas, sejam elas seu pênis, maná, totem, etc. O duplo para o menino é seu pênis, para a menina sua boneca e mais tardiamente seu filho.

Mas uma vida é uma relação com o mundo; é escolhendo-se através do mundo que o indivíduo se define; é para o mundo que nos devemos voltar a fim de responder às questões que nos preocupam. BEAUVOIR, p. 69.

Como explicaria a psicanálise o fato da mulher se o  Outro? Não explica. O que está sendo recusado aqui é o método psicanalítico, pois a sexualidade não é um dado, a libido feminina só foi estudada a partir da masculina e nunca a partir da subjetividade da mulher e sua passividade não é algo a priori. A mulher encontra-se num mundo de valores e suas condutas são livres, ela escolhe sua transcendência e igualmente como se deixa ser objeto; projeta-se diante de um passado que não é seu, num presente que se faz em rumo a um futuro que ainda não lhe pertence. A mulher é tão ser humano quanto o homem e numa tentativa de a definir, faz-se necessário conhecer o mundo de valores que ela se encontra, sua estrutura econômica e social, sob uma perspectiva existencial.

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