Simone de Beauvoir começa o artigo ressaltando as diferenças encontradas na experiência de ler um tratado filosófico e um romance. Enquanto o filósofo comunica a sua experiência, ao romancista cabe a tarefa de imaginar uma situação onde esta possa ser posta em prática, ou seja, a ideia filosófica será apreendida no mundo real. O romance fará o leitor reagir e se comover com os acontecimentos antes de ser ater a juízos filosóficos. Para Beauvoir, o bom romance é aquele que não se reduz a fórmulas. O autor de um romance não deve "fazer pressão" no leitor nem forçá-lo a aderir as suas teses. Ele deve convidá-lo a um diálogo livre:
"(...) o romance só se reveste do seu valor e da sua dignidade quando constitui para o autor como para o leitor uma descoberta nova" (BEAUVOIR, Simone de. pág 83-84)
O romance não deve ser manufaturado, nem seus personagens previsíveis. A liberdade do personagem, na verdade, é a liberdade do autor. Ao autor é necessário acreditar no que se está escrevendo a fim de que surjam novas "verdades" à medida em que a história se desenvolve. É necessário correr o risco. O romance psicológico baseado na psicologia teórica falharia porque estaria preso a um sistema e não teria liberdade, sendo trabalhado apenas no plano abstrato. Porém, o romance psicológico, baseado na singularidade da experiência humana nos ensinaria muito mais. Analogamente, Beauvoir explica a relação "Metafísica X Romance". Primeiro, você não "faz" metafísica, e sim você "é" metafísico, se põe no mundo. Todo acontecimento humano tem uma significação metafísica. A literatura serve à metafísica e a metafísica serve à literatura. A alguns autores, sua filosofia é melhor compreendida sob a forma de romance e vice-versa. É o esforço para conciliar o objetivo com o subjetivo - esforço esse usado para exprimir o pensamento existencialista.
O escritor do romance não deve explorar as verdades pré-estabelecidas, mas sim usá-las na experiência, singularmente. Deve-se deixar de lado o caminho estreito que é seguir traços psicológicos ou sistemas filosóficos pré-determinados e deixar que o romance flua. Ao leitor também cabe a tarefa de se deixar levar pelo romance, não se preocupando em decifrar códigos, nem procurar traduzi-lo, esquecendo de somente se deixarem levar pela história. O romance metafísico tem como intuito provocar descobertas e apreender o homem e os acontecimentos humanos nas suas relações com o mundo.
esse artigo de Beauvoir parece uma justificação de seu trabalho literário. Seria isso? ou seria loucura minha?
ResponderExcluirRealmente parece... Quando se lê os outros escritos filosóficos dela, fica mais evidente ainda essa via literata expressada pelos exemplos que ela coloca.
ResponderExcluirNossa, estou aprendendo a conhecer Beauvoir agora, me parece fascinante, essa abordagem metafisica ja vi em Canaa de Graça Aranha e Grandes Sertoes Veredas de Guimarães Rosa. Amo muito isso tudo! seguindo o blog...
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